terça-feira, 15 de janeiro de 2013

UMA PERDA DISTANTE (MAS SENTIDA PROXIMAMENTE, PORQUE, DE ALGUM MODO, É PESSOAL)


No dia 15 de janeiro de 2013, aos oitenta anos de idade, morreu o cineasta japonês Nagisa Oshima. Quando soube de seu falecimento, eu estava saindo de um ônibus lotadíssimo, e não assimilei de imediato a gravidade desta notícia. Pensando nela, ainda no terminal de integração rodoviária, é que eu percebi o quanto esta morte é sentida pessoalmente: não apenas porque um grande mestre do cinema se vai, mas porque um mestre do cinema presente em momentos importantíssimos de minha vida continuará para sempre comigo em lembranças...

Vi apenas um punhado de filmes do diretor, mas cada um deles é deveras significativo:

  • ·         “Juventude Desenfreada/ Conto Cruel da Juventude” (1960): o mais antigo destes filmes é um dos que justificam a inserção do diretor no rol da ‘Nouvelle Vague Japonesa’. Seminal, visceral e linguisticamente inovador em mais de um aspecto, este filme injeta as pulsões rebeldes da nova juventude no tradicional cinema nipônico, seduzindo particularmente os espectadores ocidentais por sua conjunção de clamores ‘rockers’, pela vivacidade sexual, pela desesperança geracional, pela inteligência inquestionável...;


  • ·          O Império dos Sentidos” (1976): sem dúvida, o mais famoso de seus filmes, esta obra-prima perseguir-me-á positivamente durante o meu Mestrado, no sentido de que ela foi indiretamente responsável pela assunção da temática que pesquiso, as contradições entre vendabilidade e contestação política nos filmes produzidos pela Boca do Lixo paulistana. Apesar de a invasão de pornografia estadunidense ter sido a principal responsável pela derrocada desta importante e auto-suficiente indústria cultural brasileira, o filme de Nagisa Oshima foi o que mais influenciou os diretores bocadolixianos no que tange à tentativa de assimilação do sexo explícito aos produtos subestimadamente artísticos que eles produziam. Sem contar que, de tanto que revi este filme (por me identificar pessoalmente com a insaciável paixão da protagonista Sada), sinto-o como se fosse uma projeção de minha própria vida sexual idealizada na tela. Tantas masturbações (alheias – inclusive ou principalmente) estiveram associadas em exibições deste filme ao meu redor. Tantas lembranças e desejos...;


  • ·         “O Império da Paixão” (1978): muito mais esotérico que o filme anterior, esta obra é eclipsada pelo sucesso do mesmo, mas, ainda assim (ou por isso mesmo) deve ser (re)descoberta. Sua trama é uma belíssima exposição de um adultério violento que ultrapassa a própria morte, não obstante, como no filme anterior, ter fundamentos em uma história real. Não lembro em detalhes de sua trama, mas suas imagens encantadoras e fantasmagóricas me encantarão para sempre, bem como o contexto em que eu o apreendi primeiramente, justamente na sede da eternizada Gomorra;


  • ·         “Furyo – Em Nome da Honra” (1983): um filme que eu descobri pelos motivos “errados” (sua homossexualidade estrutural), mas que revela camadas e mais camadas de genialidades, associada a um elenco composto por grandes músicos e artistas (David Bowie, Ryuichi Sakamoto e Takeshi Kitano entre eles), a uma canção-tema soberba, e a um beijo que escancara as sutilezas beligerantes do excelente roteiro. Exijo rever este filme assim que tiver oportunidade, preferencialmente, em boa companhia masculina!;


  • ·         “Tabu” (1999): visto na tela grande do cinema, este filme me decepcionou um tantinho à época por causa de sua divulgação publicitária que focalizava a temática homossexual em detrimento dos questionamentos honoríficos contidos no título original e em sua belíssima trama circular. Um filme que, definitivamente, eu preciso rever, a fim de que, mais maduro, eu possa degustá-lo como o filme requer...


Poderia também destacar nesta lista “Max, Meu Amor” (1986), visto na pré-adolescência, mas do qual tenho conservadas poderosíssimas imagens na lembrança, visto que é muito difícil esquecer o romance erotizado e elitizado entre uma belíssima dama francesa e um macaco. Quem me dera receber este filme de presente de alguém. Por ora, deixo aqui o meu “descanse em paz” a mais este gênio que deixa a Terra mas adentra a imortalidade: Nagisa Oshima é um gênio! Tempo verbal no presente do indicativo.

Wesley PC> 

2 comentários:

AmericoAmerico disse...

adorei o texto. vou conhecer a obra do diretor em breve. :)

Gomorra disse...

Ele é genial, Américo! Assim que teu TCC te der uma folga, (re)veja nem que seja O IMPÉRIO DOS SENTIDOS. É um filme que muda vidas (sexuais)!

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