sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

NÃO CONSEGUI ENCONTRAR IMAGENS DO FILME EM PAUTA: OU, NALGUNS CASOS, O MELHOR ANTÍDOTO PARA A REALIDADE É A PRÓPRIA REALIDADE!


Antes de qualquer coisa, das citações recentes que me perseguem:  “os impulsos mais fundamentais do homem, gerados pela necessidade de auto-identificar-se e de situar-se no universo – impulsos que são a matriz da atividade criativa: a reflexão filosófica, a meditação mística, a invenção artística e a pesquisa científica básica – de uma forma ou outra forma foram subordinados ao processo de transformação do mundo físico requerido pela acumulação. Atrofiaram-se os vínculos da criatividade com a vida humana concebida como um fim em si mesma, e hipertrofiaram-se suas ligações com os instrumentos que utiliza o homem para transformar o mundo”.

Tal percepção genial da delicada situação econômica brasileira encontra-se na página 75 de “Criatividade e Dependência na Civilização Industrial”, livro que o economista paraibano Celso Furtado lançou em 1978 e o qual leio angustiadamente desde ontem. Não que o livro seja ruim ou irremediavelmente hermético, longe disso, mas condições estruturais precárias (uma reforma de marcenaria aqui em casa, a reinstalação da carência em meu coração aparentemente seguro, etc.) dificultam a leitura. E, a fim de relaxar um pouco, vi “Sexo, Sua Única Arma” (1981, de Geraldo Vietri) antes de dormir, na esperança que um interlocutor contemporâneo idealizado também o tivesse visto.

No filme, uma moça cega vivida por Selma Egrei chega à cidade rural onde vive uma família católica de ascendência italiana. O patriarca ama igualmente os seus descendentes, mas a sua esposa desgosta ostensivamente de sua nora viúva e do neto judeu. Na verdade, fingindo ser cega (só descobrimos isso a posteriori), a mulher seduz gradualmente cada membro masculino da família, incluindo um padre (de quem alega estar grávida) e dois rapazolas loiros e adolescentemente competitivos. Quase todos morrem ao final, como parte da consecução bem-sucedida de um plano de vingança da moçoila, que, ao som de uma trilha sonora que emula Ennio Morricone, confessa tudo a um vinicultor desnudado e embasbacado com o modo como sucumbiu à perfídia dela...

Dirigido por um especialista em telenovelas de época, a maior virtude tramática de “Sexo, Sua Única Arma” é justamente este aspecto folhetinesco, as situações de suspense e as revelações dramáticas impressionantes que se descortinam de uma seqüência para outra. O momento em que o rapaz judeu comemora o fato de seu pênis ser circuncidado e, portanto, parecer maior que o do seu primo, e o desfecho pasoliniano em sua tragicidade encheram-me de encanto. O filme é quase excelente e injustamente desconhecido, até mesmo pelos admiradores da Boca do Lixo, como eu. Faço questão de revê-lo em grupo, assim que possível, enquanto deixo como justificativa verdadeira para a publicação desta foto pessoal que tem muito a ver com o que sinto neste exato momento – inclusive ao relembrar o filme – no sentido de que, sim, as dificuldades de consumar a referida leitura estão me angustiando e exacerbando a minha carência erotógena. Mas tudo se resolverá até a celebração de meu aniversário, disso eu tenho certeza!

Wesley PC> 

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