segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

EU JAMAIS ME SENTIRIA COMPLETAMENTE VESTIDO SEM UM SORRISO...


Complementando a postagem aniversariante de nudez que publiquei antes do texto que agora redijo, anuncio que não apenas vi “Annie” (1982, de John Huston) no dia de meu aniversário como, para além de toda a pieguice do filme, eu ouso alegar que gostei dele, que o achei fofíssimo!

Considerado um dos filmes menores do “cineasta do fracasso”, este musical é massacrado pela crítica por causa de sua direção preguiçosa e da interpretação desconfortável do calvo Albert Finney.  Apesar de estes problemas serem evidentes, a beleza de Ann Reinking, o maravilhoso cachorro Sandy, a graça das coadjuvantes infantis e a simpatia iridescente da protagonista Aileen Quinn me conquistaram, bem como a candura das canções (“Tomorrow” e “You’re Never Fully Dressed Without a Smile” à frente). Entretanto, o que mais me incomodou no filme foi a leve indefinição de público que se instala durante alguns números musicais, visto que empregadas domésticas arreganhando as pernas sobre a mesa de jantar, ao som de uma canção jazzística, não me pareceu muito adequado para as crianças oitentistas. Os vilões interpretados por Tim Curry e Bernadette Peters são demasiado caricatos, mas a bêbada ninfomaníaca (Carol Burnett, ótima) que comanda o orfanato feminino e o mordomo indiano e hipnotizador (Geoffrey Holder) do milionário que adota a garotinha protagonista são personagens interessantes e levemente ambíguos: fiquei contente ao perceber que eles se apaixonaram ao final... Eles se merecem! (risos)

Caso o tom desta resenha impessoal esteja demasiado tolerante, além de entregue ao caráter efusivo da narrativa – perniciosa em seu elogio discursivo ao capitalismo estadunidense de reconstituição pós-quebra da Bolsa de Valores de 1929, contando inclusive com uma aparição oportunista do presidente Franklin Delano Roosevelt (vivido por Edward Herrmann) e com um atentado terrorista bolchevique – adianto que duas cenas me perturbaram no filme: o instante em que o multimilionário, a sua bela secretária e a garotinha assistem ao clássico “A Dama das Camélias” (1936, de George Cukor - elogiado passionalmente aqui) num cinema; e a cena posterior em que os falsos pais da órfã Annie entregam ao milionário uma certidão de nascimento que declara que a menininha tinha nascido em 1922. Se Annie assume que tem dez anos de idade numa dada seqüência – apesar de parecer ter bem menos! – estas duas cenas, em cotejo, deixam ainda mais evidente a preguiça composicional do filme, baseada numa famosa peça de sucesso na Broadway, então dirigida pelo ardiloso Mike Nichols, mencionado nos créditos finais. Seja como for, o filme me encantou: o aceitei prontamente como meu primeiro presente fílmico de aniversário. Obrigado por isso, John Huston: até mesmo os fracassados têm os seus momentos de glória!

Wesley PC> 

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