quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

“EU ESCREVO PORQUE SOU JOVEM E, COMO MUITOS DE MINHA GERAÇÃO, SOU ROMÂNTICO”...

Para além da flexão de gênero no adjetivo, esta confissão é o que a personagem-narradora de Lúcia Veríssimo pronuncia na cena inicial de “Filhos e Amantes” (1981, de Francisco Ramalho Jr.), filme produzido por um dos principais arregimentadores da Boca do Lixo, Antônio Polo Galante, que vi na madrugada de hoje pensando ser superficialmente erótico, mas que me surpreendeu pela pretensa contundência geracional, pelas frases de efeito envolvendo jovens endinheirados e constantemente angustiados diante das drogas, de ameaças e necessidades de aborto, diante das agruras da vida adulta, enfim. No filme, a protagonista descobre que está grávida de seu namorado (André de Biase), mas não está segura se deseja interromper a gestação. Viaja com ele para a casa de campo de uma amiga (Denise Dumont), que vive com uma linda moça que gosta de ficar enclausurada (Nicole Puzzi, que protagoniza uma fantástica cena de masturbação) e, antigamente, desejava que os homens sofressem violentas dores no saco (um jovem e muito bonito Paulo Gorgulho é alvo de uma de suas traquinagens sensuais interrompidas, largado nu no meio do mato). Lá, o ex-namorado da amiga (Hugo Della Santa) aparece acompanhado de uma moça histérica (Rosina Malbousian) e, depois que esta tem uma overdose, eles redescobrem a beleza da vida [“confesso que vivi. Ou melhor, confesso que quero viver” é o lema final] depois que conhecem um casal (Walmor Chagas e Renée de Vielmond) que se ama, não obstante a esposa ter se assustado deveras quando o senhor fora esfaqueado durante um assalto, em relação ao qual não guarda rancor dos bandidos. Tudo isso ao som da trilha sonora sintetizada de Rogério Duprat! 



 Não é um filme muito bem-resolvido, mas me deixou pensativo, me fez repensar meu moralismo sobrevivencial, minha relação ruim com a idéia do aborto (não obstante eu admitir que não cabe a mim julgar ninguém por isso), meus pré-conceitos em relação às substâncias lisérgicas, meus receios sexuais, meus desejos prementes, minha vontade de viver... Não é um filme muito bom, mas que, visto numa madrugada de leve crise, me fez sentir contente por possuir os melhores amigos do mundo. E, quando alguém se pergunta “as nossas angústias são crônicas, não é?”, a resposta não poderia ser melhor e mais efetiva: “o que é isso?! Se a gente se ajudar, a gente pode enfrentá-las!”. Oh! Fiquei contente com o filme, não obstante seu clima um tanto melancólico, apesar da belíssima direção de fotografia de Antônio Luiz Mendes, que aproveita muito bem as belezas naturais do Parque Nacional de Itatiaia e de Agulhas Negras, no Rio de Janeiro. Viver é maravilhoso!

 Wesley PC>

Um comentário:

AF Sturt Silva disse...

237Quando era mais novo assistir este filme. Gostei pelo erotismo. Hoje quero revê-lo com uma visão mais madura de amante da sétima arte. No entanto, ainda não consegui.