segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

E, SE EU TIVESSE HOJE 45 ANOS DE IDADE, PODERIA ME VANGLORIAR DE JÁ TER FEITO SEXO COM MAIS DE TREZENTAS PESSOAS EM MINHA VIDA?


Um dos guarda-costas que protagoniza “O Gosto dos Outros” (2000, de Agnés Jaoui) chega à conclusão de que sim. Tendo iniciado sua vida sexual aos 15 anos de idade, e fodendo em média dez mulheres por ano, ele chega ao surpreendente número de parceiras sexuais indicado no questionamento que intitula esta postagem. Mas o filme não é sobre isto, não obstante tal problema erótico fazer parte do amplificado escopo de assuntos que o roteiro aborda...

Apesar de ter sido indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2001, este filme permanece obscuro para o grande público. É fácil entender o porquê: apesar de sua aparente leveza cômica, da adesão crescente do roteiro à paixonite do protagonista e ao aparente despojamento da direção, este é um filme de tese, rigorosamente planejado para despejar suas opiniões pré-concebidas sobre o espectador. O diálogo é secundário: as opiniões já estavam formuladas desde o princípio, quando vemos o guarda-costas aprender a tocar flauta no interior de sua residência pela primeira vez...

“O Gosto dos Outros” está longe de ser um filme ruim. Muitíssimo pelo contrário: magistralmente orquestrado em suas diversas tramas paralelas, este filme discute a assimilação de padrões (alheios) instituídos de cultura de uma forma muito inteligente, abrindo espaço para uma identificação espectatorial benévola com o protagonista, um empresário casado com uma decoradora de interiores ‘kitsch’, que, aos poucos, entra em contato com a arte dita refinada depois que se apaixona por uma atriz de teatro que trabalha como professora improvisada de Inglês. Ao mesmo tempo em que desenvolve sua paixonite e concomitante adesão a cânones artísticos que podem resvalar em aproveitamento monetário, o filme permite que também conheçamos – e desenvolvamos simpatia – pelos guarda-costas do protagonista, sendo um deles apaixonado por uma namorada que vive nos EUA e o outro gradativamente envolvido num romance com uma garçonete que, nas horas vagas, exerce a função de traficante de maconha. Uma suposta classe popular é, portanto, também priorizada aqui. O problema conceitual: guarda-costas franceses não são necessariamente eqüivalentes a uma classe popular, o que torna as conclusões do filme, conforme dito anteriormente, pré-concebidas, embasadas muito mais numa ‘doxa’ eurocêntrica que numa perspectiva de generalização analítico-discursiva para a questão que me apresentou tardiamente a este filme: as associações imediatas entre “bom gosto artístico” e determinadas classes sociais.

Para ser sincero, muito do que estou escrevendo sobre este filme é uma especulação defensiva da qual faço uso para me esquivar da confissão – afinal, inevitável – de que me senti plenamente contemplado pela demonstração de que paixões carnais resultam em amadurecimento intelectual. Por estar realmente apaixonado pela atriz, o empresário passa a se relacionar consumisticamente com as artes plásticas não apenas para agradá-la, mas porque realmente começa a gostar das mesmas, de modo que, ao final, quando ele aplaude entusiasticamente uma peça teatral de Henrik Ibsen, ele já está tarimbado para entender que aquilo ali não é uma comédia. Quem me conhece a fundo, sabe bem por que este tema me é tão pessoalmente relevante: não acredito em (ou melhor, não aceito extra-gramscianamente que possa haver) aprendizado sem paixão!

Wesley PC> 

2 comentários:

AmericoAmerico disse...

O problema é: e se vc se apaixonar por uma pessoa ' burra'? Pode acontecer... e porque o mais 'burro' tem que se adaptar e não o contrário?O lugar onde o dinheiro está nessa relação determina a ação?

Reflexão, reflexão...

Enquanto isso a Elba Ramalho está há 1 ano sem fazer sexo.


rsrsrs

Gomorra disse...

Perfeita reflexão adicional, Américo! Simplesmente perfeita! Intrigado aqui, diante da primeira pergunta. Mas, sabe o que me consola, não acredito em pessoas "burras" que não possam nos ensinar nada... Sempre aparece algo. Talvez eu seja otimista demais, não sei. Coisa de "monogâmicos seriais" (hehehehe)

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