quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O PRENÚNCIO DE UMA QUEDA OU A ANTECIPAÇÃO DE UMA EREÇÃO?

Na noite de ontem cheguei em casa me sentindo cansado. Como já era tarde, não pude me programar para ver nenhum filme em específico. Liguei a televisão, zapeei pelos canais e escolhi o título que menos me desagradava: a produção coletiva “Nova York, Eu Te Amo” (2009), dirigida por 11 diretores, tão diversos quanto Fatih Akin, Natalie Portman, Mira Nair, Allen Hughes, Brett Ratner e os desconhecidos Shunji Iwai e Wen Jiang, entre outros. Para minha surpresa, o filme pareceu mais simpático em sua irregularidade que o seu antecessor francês, sendo que pelo menos um dos episódios me emocionou bastante, aquele dirigido por Shekhar Kapur e protagonizado por John Hurt, Julie Christie e um surpreendentemente comovente Shia LaBeouf.

 No episódio em pauta, uma cantora de ópera que deseja ficar reclusa hospeda-se num hotel nova-iorquino, onde é atendida por um rapaz deficiente que se locomove com muita dificuldade. Ela desaprecia o quarto em que lhe instalam e pede que seja transferida para um apartamento no andar superior. Quando percebe o extremo esforço que o funcionário deficiente engendra para subir um lance de escadas, carregando a pesada bagagem da cantora, ela se sente arrependida por um instante de estar lhe causando aquele transtorno. Pergunta delicadamente se pode ajudá-lo, ao que ele responde pouco expressivamente, mas de modo firme: “este é o meu trabalho!”. Já no interior do quarto, ela sente necessidade de flores em seu ambiente e pede que o rapaz lhe consiga violetas, o que ele encontra oportunamente à disposição no balcão do hotel. Quando ele entrega as flores à cantora, ela percebe o seu olhar triste, descobre que ele é um imigrante, tenta conversar com ele e, quando o mesmo se dispõe a fechar a janela, a fim de que a cantora não sinta frio, ele cai, morrendo na rua. A cantora fica condoída, mas recebe a visita do gerente do hotel, anos depois (?), que lhe assegura que não houve nada de mais e que a janela precisa ser fechada, a fim de que ela não se resfrie. Autor do roteiro deste episódio: Anthony Minghella, falecido em 2008 e a quem o filme como um todo é dedicado.

 Fiquei tão impressionado com a leveza do episódio que, no afã por escrever algo a respeito dele, busquei imagens do Shia LaBeouf e me deparei com a notícia de que ele aparecera nu num videoclipe do Sigur Rós, “Fjögur Píano”, última faixa do disco mais recente da banda islandesa, “Valtari” (2012), que havia sido lançado em maio deste ano e eu ainda não conhecia. Adiantei-me em baixar o disco e ver o início do belo videoclipe. Gosto dos começos...

 Wesley PC>

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

EU TENHO PROBLEMAS, EU TENHO PROBLEMAS, EU TENHO PROBLEMAS, EU TENHO PROBELMAS, EU TENHO PROBLEMAS!

São quase 21h30’ (horário local). Desde as 15h da tarde de hoje, invento pretextos para ficar diante de um computador, aguardando que alguns filmes raros bergmanianos estejam disponíveis para acomodação num DVD. Já tenho muito o que ver (filmes atrasados aos borbotões), mas encasquetei de só voltar para casa com as produções primevas deste genial cineasta sueco em minha bolsa: nunca assisti à película de estréia do diretor, “Crise” (1945). A oportunidade ideal tem que ser esta!

 Sendo bastante sincero e sensato, os primeiros filmes do diretor (entre as décadas de 1940 e 1950) não me agradam tanto quanto as obras-primas psicológicas que ele começou a realizar a partir de 1955. O enfoque, nestas obras, é bem mais realista do que estamos habituados a perceber em seu ‘corpus’, mas o elemento contido neste título tão significativo é quase onipresente nos enredos: os personagens bergmanianos encontram-se numa crise perpétua – diante do mundo, abaixo de Deus, em relação a si mesmos, etc.. Por essas e outras, não é difícil compreender o porquê de eu me esforçar tanto para adquirir estes filmes ainda hoje: quero adiantar nem que seja alguns deles neste feriado prolongado que se estende e me atemoriza. Afinal de contas, meu irmão caçula já começou na se embebedar e minha mãe já externa os primeiros sinais de sua neurose freqüente...

 A demora prolongada (quase sete horas de espera) me motiva a desistir, mas, conforme disse a um grande amigo no início da tarde de hoje: “desistir é perigoso. Vicia. Talvez o mais lícito seja perder, ainda que isto também seja vicioso...”. O que não vicia hoje em dia? Até mesmo (querer) ver um filme é considerado uma patologia! E eu espero, espero... E tenho problemas, que nem alguns dos desesperados personagens de Ingmar Bergman!

 E já passam das 21h30'... 

 Wesley PC>

EU NÃO DEVO SER ‘GAY’, SÓ PODE SER ISSO!

Na manhã de hoje, vi um filme horrendo, cujo título original é “All the Rage” (algo como “toda a raiva”) e, no Brasil, se chamou “O Solteirão” (1997, de Roland Tec). Não conheço o diretor e tampouco creio que me interesse por suas outras possíveis produções, mas o que me chamou a atenção neste filme foi a sinopse sobre um homossexual viciado em academias de ginástica que, aos 31 anos de idade, resolve desistir de sua vida fútil e promíscua e se apaixonar fixamente. O problema é que o filme legitima tudo o que parece condenar (inclusive em seu final moralista, de condenação à solidão para o protagonista malhado), fazendo com que nos interessemos justamente pelo que ele tem de mais efêmero: os corpos masculinos seminus.

 Apesar de eu ser um rapaz conhecido por minha lascívia, sou ainda mais conhecido por minha virgindade penetrativa. Muitos dizem que não tenho vontade de dar o cu porque nunca experimentei, mas, sinceramente, vendo este tipo de filme, não consigo entender o que leva tantas pessoas a gastaram a maior parte de seus dias pensando apenas em foder. Sim, porque num aspecto ao menos eu serei obrigado a elogiar o filme: em sua verossimilhança. Conheço muitas pessoas que são exatamente como aquele protagonista, volúveis, voláteis, indecisos, traiçoeiros, recorrentes em suas burradas genitais. Pergunta o melhor amigo do protagonista: “quando é que tu vais parar de passar a vida inteira pedindo desculpas e vivendo-a efetivamente?”. Me senti atingido pela pergunta: como responder a um troço destes?

Para além de toda a malevolência estrutural do filme – típica destas obras deslumbradas pelo se convencionou chamar de ‘pink money’ – ao menos o diretor merece algum crédito pelo pioneirismo na abordagem estritamente ‘gay’ (quando ele dirigiu este filme, ainda eram parcos os exemplares vendáveis de romances entre homens que amam homens, no sentido mercadológico do termo) e pela composição da divertida música ‘dance’ “Military Man”, que faz parte da trilha sonora e é repetida durante os créditos finais. Mas, fora isso, o filme é uma ode bifurcada ao capitalismo, ao fisiculturismo e ao conservadorismo imitativo. Sinceramente, não me contempla: não devo ser ‘gay’...

Wesley PC>

terça-feira, 13 de novembro de 2012

UMA (TENTATIVA MALFADADA) RESENHA ARACAJUANA:

Na manhã de hoje, finalmente me dispus a ver “Atividade Paranormal Aracaju” (2011, de Marlon Delano), curta-metragem sergipano premiado num concurso nacional promovido pelos distribuidores do inesperado sucesso estadunidense “Atividade Paranormal” (2007, de Oren Peli) para saber quem conseguiria realizar algo com resultados muito próximos dos originais...

Não gosto muito do filme original, mas tenho uma estranha relação de culto com ele, visto que ele foi efetivo em me assombrar e me deixar sem dormir direito (de medo) por quase uma semana. A versão aracajuana segue à risca a fórmula original – hoje copiada e continuada das formas mais clicherosas e ridículas possíveis – mas o que mais chama a atenção na mesma é o regionalismo exacerbado dos diálogos dos personagens. Não sei se foi proposital, mas o excesso de “aff” e demais expressões nordestinas, em meio ao sobejo de “velho” e “pôrra” nos diálogos, me encantou: acentuou o realismo espontâneo da realização. Gostei muito do filme neste quesito!

 Obviamente, este elogio me obriga a abrir um parêntese em relação ao seu realizador, odiado por alguns e amado por diversos bajuladores tecnicistas, em relação ao qual me sinto vitimado por uma atração física inexplicável, por mais que eu não me sinta apto a rotulá-lo de “curta-metragista” ainda: falta algo em suas realizações muito curtas e premidas pela técnica sobressalente. Falta estilo! Mas a fama chegou muito cedo para Marlon Delano, de modo que não duvido que, no tempo certo, ele realizará o seu ‘blockbuster’. Para além de eu gostar ou não de suas realizações, ele merece o que vem obtendo: é o que ele deseja. Quem sou eu para desejar que ele não seja feliz?

Sim, eu sei que este texto está sendo desviado de seu intento original, que é o de criticar o filme em si, mas acho que o debate verificado aqui – com o meu comentário elogioso devidamente incluído, onde elogio o esforço da atriz Samara Peixoto, musa habitual do diretor – cumpre bem a função que não estou conseguindo exercer neste espaço confessional: Marlon Delano me atrai fisicamente - e este é um de meus mais conhecidos pontos fracos!

Wesley PC> 

NEY SANT'ANNA, NUM FILME QUE NÃO É EM PRETO-E-BRANCO, E A BELEZA...

Ainda hoje, planejo ver"O Amuleto de Ogum" (1974), clássico do Nelson Pereira dos Santos protagonizado por seu belo filho Ney Sant'Anna... Ansioso pela sessão e, apesar de suspeitar que o filme será genial em âmbito político e religioso, antecipo que meu interesse inicial é o nepotismo bem-vindo: rapaz lindo da zôrra! Ai, ai...

Wesley PC>

O ALIENÍGENA ENQUANTO METÁFORA DO DESCONHECIDO, DO INACEITO...

Não tendo por que "Alien - O Alien Fugitivo" (2011, de Greg Mottola) não me foi apresentado anteriormente: o filme é tão bem-sucedido em sua coleção de referências a clássicos da ficção científica e piadas contra o fundamentalismo cristão que, em meio às cenas de ação e às piadas de baixo calão, merecia um sucesso bem mais valorativo, inclusive no que tange aos seus resultados de bilheteria.

Na trama, dois amigos britânicos - tão involuntariamente homossexuais quanto os bissexuais espaciais que buscam apenas o prazer, não importa ao lado de quem - passam as férias numa convenção de aficionados em Histórias em Quadrinhos e conhecem um alienígena fugitivo há mais de cinqüenta anos, que, entre suas atividades secundárias, é consultor de enredos dos filmes spileberguianos. Ri muito durante aquela sessão - e, principalmente, me senti muito contemplado com a entrada em cena da personagem de Kristen Wiig, um "ciclope cristão" que nunca tinha xingado ou feito sexo até conhecer os personagens mostrados na foto: as conseqüências libertadoras do encontro são metaforicamente condizentes com o traço estilístico caro ao humor inteligente das comédias mottolianas. Gostei muito do que vi! Como pode que um filme hodierno tão inteligente permaneça desconhecido? A própria Hollywood responde por debaixo dos panos...

Wesley PC>

domingo, 11 de novembro de 2012

E, DE REPENTE, O GOLPE DE MESTRE: “ESTE É UM FILME SOBRE OS USOS”!

Vou confessar: quando me dispus a ver “Gretchen - Filme Estrada” (2010, de Eliane Brum & Paschoal Samora), em pleno horário do almoço, me contentava com o próprio absurdo de seu tema real, a campanha eleitoral da autoproclamada cantora Gretchen à prefeitura do município pernambucano de Ilha de Itamaracá, em 2008. Depois de experimentar uma profunda crise profissional – relacionada ao fato de que, supostamente, ela não suportava mais rebolar ao som de apenas duas canções gemebundas e repetidas à exaustão diuturna – a cantora declara estar disposta a renunciar ao seu nome profissional e assumir-se como Maria Odete, mulher administradora, ansiosa por retribuir o afeto recebido pela cidade que a amparou quando se sentia triste. No filme, portanto, acompanhamo-la transitando entre comícios improvisados, exposições glúteas para crianças em circos interioranos e súplicas populares de eleitores acostumados a receber dinheiro para declarar a sua fidelidade partidária. Gretchen, entretanto, não apenas não tem dinheiro para distribuir (num dos momentos, ela liga para uma companhia que interrompeu o fornecimento de água em sua casa, por falta de pagamento) como alega que não quer fazer isto, no sentido de que discorda deste tipo de postura pseudo-assistencialista. Grita aos quatro ventos que não quer nem precisa ter poder, visto que, sendo quem ela é, pode adentrar qualquer escritório ministerial e ser ouvida e atendida em seu clamor, pois é amada pelo Brasil inteiro, assim ela acredita.

 Por mais bizarra que seja a sua campanha, os diretores respeitam-na: entendem tanto o desconforto ideológico da candidata a vice-prefeita de Gretchen – que, afinal, é destituída de seu cargo por escancarar o descrédito em relação às intenções políticas da cantora – quanto os interesses oportunistas dos assessores de campanha, que a treinam para evocar chavões evangélicos durante os seus pronunciamentos públicos. E, assim, a equipe de filmagem fica ao lado da artista até o momento em que ela chora, arrependida por dedicar tanto tempo de sua vida a uma campanha que, pelo visto, apenas ela e seus aficionados não viam como fadada ao fracasso retumbante. E, de repente, o golpe de mestre: um narrador anuncia que “este é um filme sobre os usos” e declara que, partir daquele momento, pode escancarar os acordos esdrúxulos que mantiveram aquela campanha...

 Depois de fazer questão de mostrar cada uma das pessoas retratadas declarando consciência e permissão acerca do uso de suas imagens em sons (em nível hiperbólico, inclusive, como quando a cantora faz a platéia de um circo recitar a referida permissão ou quando um pastor pentecostal demonstra-se satisfeito com a exposição videográfica dos feitos de seus fiéis em pleno culto monetifágico), os diretores demonstram profunda consciência histórica e documental, expondo os mecanismos de filmagem e construção da “narrativa da realidade” de uma forma que, a fim de possuir uma coincidência cinematográfica direta, é similar ao que o outrora independente John McNaughton enseja ao final de “Garotas Selvagens” (1998), quando surpreendentemente acrescenta dados imagéticos que modificam sobremaneira o que vimos na trama de suspense e muitas reviravoltas do filme: ou seja, o miolo dos acontecimentos é trazido à tona, antes que o dado tragicômico de que a cantora conseguiu obter apenas 2% dos votos válidos do município é anunciado. Sinceramente, não sei se consegui sentir mais pena, ódio ou medo da postura pública da cantora, mas que, enquanto obra desconstrutivista, o filme é genial, ah, isso ele é! Quem diria...

 Wesley PC>

sábado, 10 de novembro de 2012

NÃO SOU O QUE SE PODE CHAMAR DE FÃ DO CAIO FERNANDO ABREU, MAS, SE ELE QUISER ME COMER HOJE, EU DEIXO!

Quedo impressionado: acabo de ver “Onde Andará Dulce Veiga?” (2007, de Guilherme de Almeida Prado) e achei o filme belíssimo! Acompanho o trabalho de seu diretor desde a infância, quando a publicidade de “A Dama do Cine Shanghai” (1987) tornou-se uma obsessão desejosa. Tive acesso a dois de seus filmes absolutamente apaixonados pelo próprio cinema [“Perfume de Gardênia” (1992) e “A Hora Mágica” (1999)], mas somente este ano tive a oportunidade de assistir ao seu maior clássico: e me apaixonar perpetuamente!

 Malgrado esta paixão intensa pelo diretor, quando soube que “Onde Andará Dulce Veiga?” estava em cartaz nos cinemas sergipanos, não fiz tanta questão de conferi-lo assim: o filme fora difamado pela crítica, o elenco não me empolgou, pensei que o diretor tivesse envelhecido (no mau sentido do termo), esperei outra oportunidade para vê-lo. E, ao fazê-lo, hoje, saí da sessão completamente apaixonado: o filme é belíssimo, insisto!

 A trama possui os estratagemas investigativos caros tanto ao cineasta (em nível factual) quanto ao escritor (em nível existencial): um jornalista (composto preguiçosamente ou mal-interpretado por Eriberto Leão) é designado para entrevistar a vocalista de uma banda feminista (vivida por Carolina Dieckmann, com ótimos momentos em cena, mas nem sempre muito boa) e, ao descobrir que ela é filha de uma musa do passado (vivida por Maitê Proença, atriz-fetiche do diretor), resolve descobrir, a pedido de seu patrão (Nuno Leal Maia), por onde ela anda, visto que a mesma literalmente desapareceu durante a filmagem de um clímax de um suspense. Dirigido por seu marido homossexual (Oscar Magrini, afetado e exagerado), as imagens deste filme de suspense rendem um encantatória homenagem hitchockiana, numa das diversas referências típicas do diretor ao cinema e à arte em geral (neste filme, elas vão de Nelson Rodrigues a Roland Barthes, passando pelo Cinema Novo, pela própria obra pradiana e pelo cenário 'punk' nacional), conduzindo o protagonista à personagem de Christiane Torloni (mais uma das atrizes-fetiche do diretor), a um enigmático toxicômano de nome Raudério (Carmo Dalla Vecchia) e a uma dona de pousada amazonense (Matilde Mastrangi, também musa discreta do cineasta), que, em dado momento, pronuncia que “existem muitas Iracemas neste mundão de Deus!”. O contexto da frase: a percepção de que as perguntas são bem mais interessantes que as respostas, conforme atesta a própria personagem-título quando surge e diminui um tanto a intensidade interrogativa do filme, mas não dirime a sua extrema beleza, inclusive no que tange ao uso da música, visto que, como recita o personagem principal, durante toda a minha vida, eu tive o pressentimento de que não perderia nada ao perseguir uma canção. Comigo não é diferente: por isso, ousei persegui o filme e me encantei diante do que vi, por mais equivocado que ele seja do meio para o final...

 Wesley PC>