segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

“... E O QUE VOCÊ FEZ?”


Quando eu tinha por volta de 14 anos, assisti a um telefilme, na TV Bandeirantes, que me impressionou deveras: “Dahmer, o Canibal de Milwaukee” (1993, de Carl Crew). Não obstante ser um filme que, visto hoje, seria tachado como ruim, a sensualidade perversa da obra me excitou e me fez ter consciência de que eu era “diferente”.

Ostensivamente misantropo à época em que vi o filme, projetei-me na biografia do perturbado Jeffrey Dahmer (1960-1994), homossexual em crise perpetua consigo mesmo que, sem conseguir distinguir adequadamente o que sentia pelos homens que encontrava pelo caminho, os drogava, os matava e os dilacerava, cumulando cadáveres em sua casa, de modo que o mau-cheiro dos mesmos o fez ser descoberto, preso, condenado a centenas de anos na prisão e, após dois anos de cumprimento dos mesmos, foi morto por um companheiro de cela, aos 34 anos de idade. Não é este destino que eu quero para mim, aliás!

Hoje, às vésperas de completar 32 anos de idade, resolvi conferir um filme desconhecido que estava jogado em minha casa faz tempo: “Dahmer – Mente Assassina” (2002, de David Jacobson), sobre o mesmo personagem real. O DVD havia sido um presente de meu antigo chefe empregatício, que notou similaridades entre o protagonista do mesmo e minha personalidade recôndita. Achei engraçado que ele tivesse percebido isso (risos)...

Ao contrário do telefilme mais antigo, “Dahmer – Mente Assassina” é muito pudico e justificativo no que tange à reconstituição dos assassinatos perpetrados pelo jovem Jeffrey Dahmer. Aqui, ele surge como um funcionário de fábrica de chocolates que é bastante tímido na abordagem erótica dos rapazes por quem se interessa e, enquanto conversa com um rapazola negro e afetado por quem talvez tenha se interessado, relembra as primeiras vezes em que cometeu assassínios, ainda em sua tenra juventude. O problema é que o roteiro do filme, escrito pelo próprio diretor, não avança em nenhuma direção precisa, acumulando e misturando memórias apenas para “defender” Jeffrey como um rapaz atormentado pelo divórcio dos pais, pela vigilância de seu progenitor e pelos cuidados exagerados da avó com quem vive. Ao final, tudo é muito superficial, não convence, não nos leva a tomar partido, não chega a qualquer resultado prático: não me identifiquei tanto, felizmente!

A razão para o meu distanciamento insuspeito em relação ao personagem não tem a ver apenas com a má qualidade do filme: desta vez, estou muito mais cônscio de minhas limitações e perversões, de modo que nem mesmo as aflições típicas de festividades como o réveillon que se aproxima me parecem tão contundentes. Sinto-me, sinto-me feliz!

Enquanto me banhava, há pouco, tive um pensamento oculto que resolvi compartilhar como se estivesse apenas reverberando a minha consciência: em 2012, não beijei ninguém na boca! Não sei até que ponto sinto falta disso (já que costumo dizer que beijos na boca me incomodam), mas não me senti lamentoso por tal recorde negativo: não sei beijar só por beijar! Como não me apaixonei efetivamente por ninguém que tenha se disposto a oferecer seus lábios para o meu deleite mútuo, consolei-me sobremaneira com minhas masturbações e felações consentidas (algumas delas, a fórceps – risos). Não sou um homem insatisfeito no campo sexual, ao contrário do que minha estranha categorização virginal faça pensar – e, insisto: neste exato momento, sinto-me feliz (e amado)!

Wesley PC> 

5 comentários:

Magno A. disse...

há também muita identificação com o teu texto. pensei em comentar cada parte, mas não o farei, como já dito antes, preciso fazer companhia a minha mãe que pensa que estou triste por estar com a porta do quarto fechada, na noite de ano novo. É, ela de fato tem motivos pra pensar isso. Então, aprecio e reforço a ideia da identificação, também, principalmente, por não ser você, assim como eu, um homem que beije por beijar. Tu es lindo demais, homi e eu te gosto.

Gomorra disse...

(risos)


Somos lindos, gostamo-nos e temos ambos mães encantadoras que nos entendem e zelam por nós: isso é amadurecimento! (WPC>)

AmericoAmerico disse...

'a fórceps' ????
Explica aí! rsrsrs

AmericoAmerico disse...

e adorei a estória, esse seu chefe te conhece mesmo! coincidência fenomenal!

Gomorra disse...

(risos)

Então, Américo, de vez em quando eu tinha que "forçar a barra", sabe? Insistir, pelejar mesmo para chegar ao acordo que, afinal, saciava a todos (risos) - E sim, Edilson me conhecia por dentro. Até mesmo quando o filme era ruim, ele acertava no presente!

WPC>