quinta-feira, 8 de novembro de 2012

“ – TU ESTÁS FAZENDO APOLOGIA AO CRIME? – NÃO. À HECATOMBE!”

E eu tremi diante deste filme, abalado por tremores sorridentes advindos de sua extrema genialidade, de sua leveza rítmica, de sua lascívia acachapante, de sua genialidade formal impressiva, de sua qualidade espetacular, enfim. Numa das cenas iniciais impressionantes, um bêbado comemora um êxito lotérico num bar, quando uma mulher com aparência de prostituta oferece-se para acompanhá-lo. Diz estar bem equipada para protegê-lo, enquanto abre o casaco e faz com que ele admire os seus seios, ao que ele responde, sem pestanejar: “desculpa-me, moça, mas eu parei de mamar há alguns anos!”. Nome do filme: “O Assassino Mora no 21”. Nome do diretor: Henri-Georges Clouzot. Ano da realização: 1942. Espaço para uma interjeição: glupt! 

 Na trama, um assassino serial de codinome Senhor Durand faz suas vítimas na cidade de Paris, levando o dinheiro das mesmas e deixando um cartão sobre elas. Um detetive dispõe-se a capturá-lo, depois de acompanharmos a cadeia hierárquica de cobranças institucionais que o filme tão bem descortina. Depois de disfarçar-se de pastor, o detetive hospeda-se numa pousada onde há suspeitas de que o assassino more. Ao chegar, este pastor antecipa-se em dizer que não é celibatário e que está esperando o seu oitavo filho. A senhoria então lhe pergunta como ele chegou ao lugar que ela gere. Sua resposta: “talvez tenha sido um acaso. Ou talvez tenha sido a Divina Providência. Melhor: foi um acaso providencial!”. E, antes, durante e após a sessão, coincidências não-casuais como esta se manifestavam em minha vida. Depois falo sobre elas, aliás...

 Seguindo em frente em relação à trama do filme, a adaptação roteirística de um famoso romance de Stanislas-André Steeman apresenta cada um dos inquilinos da pousada com um humor impressionante e consistente: um deles é um mágico que lamenta que os objetos de seu quarto desaparecem progressivamente por causa dos “ossos do ofício”; outro deles é um médico acusado de ter praticado abortos ilegais; um terceiro é um senhor que fabrica bonequinhos sem rosto, em homenagem ao assassino do título. No final do filme, a namorada cantora do detetive, numa seqüência genial, chegará à conclusão de que o Senhor Durand é, na verdade, um trio de facínoras. O modo como ela chega a esta conclusão é genial, bem como a inusitada seqüência mostrada em fotograma, no qual o detetive pede que um dos suspeitos se dispa, a fim de flagrá-lo com os pés sujos após ter assassinado uma velha donzela. Gostei muito do filme: por motivos externos à sua genialidade incontestável, inclusive!

 Wesley PC>

Nenhum comentário: