terça-feira, 27 de novembro de 2012

“INFIDELIDADE É UMA PALAVRA INADEQUADA PARA NÓS, POIS INDICA UMA MORALIDADE NEGATIVA: O CORRETO SERIA ‘MÚTUA LIBERDADE SEXUAL’”!

Assim declara o belo e atormentado personagem de Robert Atzorn em “Da Vida das Marionetes” (1980), filme de Ingmar Bergman que vi por acaso no início da tarde de ontem, pensando se tratar de um filme menor do diretor. Muito pelo contrário: foi um dos filmes que mais me instigaram psicanaliticamente, em razão de uma identificação em diversos níveis simultâneos, graças a uma trama detetivesca que investiga as razões que levaram um executivo a assassinar uma prostituta.

 Filmado em cores apenas nos breves minutos iniciais e finais, este filme serve-se de uma impressionante fotografia em preto-e-branco (mais uma vez, cortesia de Sven Nykvist) para descrever as nuanças da crise homicida do protagonista, que é desacreditado por seu psiquiatra quando confessa que sente vontade de assassinar a sua esposa. Este psiquiatra, entretanto, está justamente interessado nela, que se recusa a ceder a seus assédios sexuais, por amar seu marido e entender que ele carece de toda a sua devoção. Não raro, eles sentem insônia ao mesmo tempo: ele, preocupado com as transações comerciais de seu negócio de importação; ela, alvoroçada com os desfiles de moda que precisa organizar. No trabalho, seu melhor amigo é um estilista que atende pelo codinome TIM, formado pelas iniciais de seu nome. Este é completamente obcecado pelo marido dela, que, apesar de ser repetidamente descrito como um homossexual latente, nunca lhe favoreceu os avanços erotógenos. Até que o estilista resolve acentuar a crise no casamento dele – manifesta através de crises recorrentes de impotência sexual – apresentando-o a uma prostituta homônima de sua esposa, que é assassinada. Conclusão do filme: “o homem só pode controlar completamente a si mesmo quando se mata!”. E eu acrescento: contei muito pouco sobre o filme, de tanto que ele me impressionou...

 Obviamente, as cenas oníricas do filme me chamaram particularmente a atenção por causa de sua sensualidade asfixiante: numa das cenas, o protagonista sonha que está sonhando com sua esposa sendo fodida por ele. As conseqüências do conluio sexual problemático serão adiantadas num veredicto posterior: “se tu és a morte, és bem-vinda; se tu és a vida, és igualmente bem-vinda”. Filme absolutamente genial: estou impressionado ainda, preciso revê-lo!

 Wesley PC>

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