quarta-feira, 24 de outubro de 2012

IDENTIFICAÇÃO É UM TROÇO BIZARRO!


Cheguei em casa disposto a escrever um texto autocomiserativo: uma crise insuportável envolvendo um amigo fez com que eu experimentasse uma revolta tamanha que até parecia ódio, na melhor das hipóteses, ódio de ser tão estúpido e me deixar confiar em quem não mais me suporta. Liguei a TV por acaso e me deparei com um filme adolescente que me parecia promissor por causa de sua sinopse: tratava-se de “Rebelde com causa” (2009, de Miguel Arteta), cujo protagonista, vivido pelo muso ‘indie’ juvenil Michael Cera, é um rapaz virgem, fã de Frank Sinatra e dos filmes de Federico Fellini, que tem como melhor amigo um rapaz que é “ainda mais infeliz do que ele”, no sentido de que sucumbe pungentemente a uma paixão platônica que deforma o direcionamento de seu pênis. Quando ele conhece uma rapariga obcecada por músicas do Serge Gainsbourg e por um filme do Jean-Luc Godard, ele tenta conquistá-la:

“ – Meu filme favorito é ‘Era Uma Vez em Tóquio’ (1953). [Kenji] Mizoguchi é um grande diretor!
- Mas o diretor deste filme não é o [Yasujiro] Ozu?
- Quem saber...”

E eu tremi: “putz! Este é um filme que tem a ver comigo!”

De fato, à medida que o filme evoluía, eu percebia cada vez mais similaridades entre o comportamento e as pulsões desejosas do protagonista e minhas próprias frustrações. Estava a desgostar da composição caricatural dos personagens adultos, mas os adolescentes eram fascinantes, todos eles. E, de repente, o protagonista percebe que, a fim de conquistar a sua amada, ele precisa fingir que é um ‘bad boy’ afrancesado. Ao final, a estratégia dá certo: ele vai para um reformatório juvenil, mas, antes, eles fazem sexo e ela garante que o esperará... Será que é isso que eu devo fazer?

Meu coração dói neste exato instante: sinto-me injustiçado, mas o filme me apaziguou por alguns instantes. Não é tão bom quanto poderia (ou deveria) ser, mas, quando acerta, atinge-me nas veias mais delicadas do meu organismo!

Wesley PC> 

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