Cheguei em casa disposto a escrever um texto autocomiserativo:
uma crise insuportável envolvendo um amigo fez com que eu experimentasse uma
revolta tamanha que até parecia ódio, na melhor das hipóteses, ódio de ser tão
estúpido e me deixar confiar em quem não mais me suporta. Liguei a TV por acaso
e me deparei com um filme adolescente que me parecia promissor por causa de sua
sinopse: tratava-se de “Rebelde com causa” (2009, de Miguel Arteta), cujo
protagonista, vivido pelo muso ‘indie’ juvenil Michael Cera, é um rapaz virgem,
fã de Frank Sinatra e dos filmes de Federico Fellini, que tem como melhor amigo
um rapaz que é “ainda mais infeliz do que ele”, no sentido de que sucumbe
pungentemente a uma paixão platônica que deforma o direcionamento de seu pênis.
Quando ele conhece uma rapariga obcecada por músicas do Serge Gainsbourg e por
um filme do Jean-Luc Godard, ele tenta conquistá-la:
“ – Meu filme favorito é ‘Era Uma Vez em Tóquio’ (1953). [Kenji]
Mizoguchi é um grande diretor!
- Mas o diretor deste filme não é o [Yasujiro] Ozu?
- Quem saber...”
E eu tremi: “putz! Este é um filme que tem a ver comigo!”
De fato, à medida que o filme evoluía, eu percebia cada vez
mais similaridades entre o comportamento e as pulsões desejosas do protagonista
e minhas próprias frustrações. Estava a desgostar da composição caricatural dos
personagens adultos, mas os adolescentes eram fascinantes, todos eles. E, de
repente, o protagonista percebe que, a fim de conquistar a sua amada, ele
precisa fingir que é um ‘bad boy’ afrancesado. Ao final, a estratégia dá certo:
ele vai para um reformatório juvenil, mas, antes, eles fazem sexo e ela garante
que o esperará... Será que é isso que eu devo fazer?
Meu coração dói neste exato instante: sinto-me injustiçado,
mas o filme me apaziguou por alguns instantes. Não é tão bom quanto poderia (ou
deveria) ser, mas, quando acerta, atinge-me nas veias mais delicadas do meu
organismo!
Wesley PC>
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