sexta-feira, 19 de outubro de 2012

DESAFIO DOS NOVE FILMES DESCONHECIDOS - #08: “EU QUERIA QUE MINHA MÃE FICASSE DOENTE PARA SEMPRE...”

Véspera de encerramento da maratona e o salto etário a que me submeti foi bastante vasto: de uma filmografia autoral, predominante européia e setentista, passei para um filme industrial, absolutamente globalizado, asiático e contemporâneo. Se, num primeiro momento, isto desencadeou decepções prévias, aos poucos “Sad Movie” (2005, de Kwon Jong-Kwan) foi conquistando a minha adesão espectatorial sincera e comovida.

 Formalmente assemelhado a produções românticas hollywoodianas típicas como “Idas e Vindas do Amor” (2010, de Garry Marshall) e “Matemática do Amor” (2010, de Marilyn Agrelo), com um ou outro momento rasteiro mais inspirado que emula “Magnólia” (1999, de Paul Thomas Anderson), este filme concatena quatro tramas interligadas básicas, conduzindo-as da felicidade inicial para a tristeza prometida no título...

 As quatro tramas entrelaçadas são: a de uma tradutora de linguagem de sinais num telejornal, que é incapaz de assumir o seu amor pelo namorado bombeiro, constantemente à sombra de um resgate heróico; a irmã surda-muda dela, justamente salva de um incêndio pelo cunhado bombeiro, que trabalha fantasiada de boneca num parque de diversões e se apaixona por um desenhista que anseia por ver seu rosto; uma executada bastante ocupada que não percebe que seu filho está cada vez mais triste por sentir a sua falta; e o abobalhado namorado de uma atendente de supermercado, que, depois de não agüentar mais trabalhar como “saco de areia humano” para lutadores de boxe, resolve fundar uma “agência de separação”, onde se propõe a noticiar términos de relacionamentos amorosos a cônjuges que não têm coragem de encarar seus (des)afetos...

 Se, no início, esses núcleos temáticos são simpáticos e engraçadinhos, da mesma forma que as comédias românticas hollywoodianas com que muito se assemelham, aos poucos, o filme vai revelando a sua faceta original: após protelar por muito tempo a proposta de casamento em relação à co-apresentadora de telejornal que ama, o bombeiro morre num incêndio súbito; por sentir vergonha da queimadura que possui em sua face, a surda-muda reluta em mostrar o seu rosto para o seu amado e, quando o faz, descobre que ele viajará para outro país, entristecido por ela não poder falar; depois que sofre um acidente automobilístico e passa a se reaproximar de seu filho (inclusive, por causa da leitura de diários antigos que ele encontra guardado), a executiva descobre que está com um câncer estomacal terminal; e, num estratagema de obviedade bastante ingênua, o mensageiro de finais de relacionamento precisa notificar a si mesmo que sua namorada não quer mais ficar com ele...

 Para além de algumas convenções inverossímeis do gênero (o anunciador de términos entrando no quarto da executa doente e o bombeiro gravando uma declaração videográfica de amor em meio a um fogaréu) e da extrema sujeição do filme à generalização globalizante (salvo por ser falado em seu idioma local, quase esquecemos que o filme é sul-coreano), o filme diverte, encanta e quase nos faz chorar em um ou outro momento, como quando o bombeiro conclui que apesar de ter resgatado um homem de um incêndio e ter impedido uma mulher de se afogar, ele não foi capaz de salvar meu próprio relacionamento amoroso... Não foi uma exibição vã, portanto: enquanto descoberta inusitada, valeu a pena!

 Wesley PC>

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