quinta-feira, 27 de setembro de 2012

OU DE COMO É PROVIDENCIAL FOCAR NO QUE É REALMENTE IMPORTANTE!

Para além de qualquer divergência ideológica que eu tenha em relação aos posicionamentos discursivos do comunicólogo Arlindo Machado, acho seu “Pré-Cinemas & Pós-Cinemas” um livro obrigatório. Em dado momento, ele se pergunta “o que é um filme?”, diante da dificuldade contemporânea em se estabelecer os limites que diferenciam um produto relacionado à Sétima Arte daquilo que não é...

 O filme foi escrito em 1997 e, de lá para cá, a questão em pauta ficou ainda mais difícil de ser respondida. Diria até “impossível”, se eu ousasse recair num fatalismo desistente, mas a adoção de critérios subjetivos de avaliação ajuda a atenuar a crise inevitável que advém deste problema interrogativo. Quem me conhece, sabe que possuo diversos destes critérios taxonômicos (oriundos de meu TOC, inclusive), mas, mesmo de posse dos mesmos, senti-me diante de uma encruzilhada quando vi “A Inocência dos Muçulmanos” (2012, de Sam Bacile), ou que quer que se pareça com isso...

 Cognominado como Nakoula Basseley Nakoula, o diretor egípcio deste filme vive nos Estados Unidos da América e realizou uma obra absolutamente péssima e inclassificável, sob qualquer parâmetro que se queira adotar para tal. Mal-feito (só pode ser de propósito), mal encenado, mal-dirigido, mal-roteirizado, o filme causou protestos inflamadíssimos em nações do Oriente Médio, a ponto de engendrar mortes, atentados terroristas, processos judiciais e o banimento da ficha técnica do filme em sua página no Internet Movie Database (IMDb). Planeja-se que o filme jamais seja lançado em público. Até que ponto isso fere o que teimam em chamar de democracia

Assisti ao filme na manhã de hoje, na versão de 14 minutos disponível pela Internet. Na obra, uma introdução com várias imagens telejornalísticas de explosões ocasionadas por extremistas islâmicos segue-se ao assassinato revoltoso da filha de um médico egípcio e a uma biográfica mitológica pífia de quem seria Maomé, o profeta em nome do qual os islâmicos lutam. Beberrão, adúltero, pedófilo, pansexual e imbecilizado, este personagem comete atos de extrema violência, como decapitar as pernas de uma velhinha utilizando cavalos em diferentes direções e empalar judeus flagrados durante suas atividades religiosas. Nos momentos mais constrangedores do filme, Maomé conversa com um asno e apanha de suas esposas quando é flagrado com um criado adolescente. Impossível gostar daquilo

Filmado diante de uma paisagem desértica artificialíssima em ‘chroma-key’, as interpretações são constrangedoras e sumamente desrespeitosas. Não apenas me vejo diante de um grave problema de classificação (como designar este “filme”?) como de um problema de avaliação estética (como julgar esta aberração paranarrativa?). Apesar de entender plenamente a revolta dos opositores ao filme [por falta de palavra melhor, seguirei utilizando este termo quando me referir a “A Inocência dos Muçulmanos”], talvez eu insista em defender a necessidade de o mesmo ser visto por outrem, mas, por outro lado, para quê? Até mesmo quem compactua com os argumentos de ódio ridicularizador do filme, deve se insatisfazer com a sua estrutura básica ridícula, chinfrim, tosca ao extremo. O que o tal diretor deste filme quis dizer com isso? Se vingar contra alguém em específico? Parece um quadro humorístico televisivo de décima-quinta categoria, sem graça, abominavelmente realizado, sem foco definido nem em seus objetivos difamadores nem em seus chistes mais epidérmicos. Um despautério imagético de baixíssimo nível!

À guisa de conclusão, pergunto a mim mesmo: até que ponto isto deve ser tachado de “filme”? Até que ponto vale a pena ver esta obra? Por que proibi-la? Por que defendê-la? O que é uma obra de arte? O que não é (se é que existe algo realizado por mãos humanas que não seja)? Por quê? Por quê?! Processando ainda o que (não) vi, principalmente o que (não) vi... Ao meu redor, há questões tão mais importantes e urgentes para eu me envolver!

Wesley PC>

Nenhum comentário: