segunda-feira, 10 de setembro de 2012

MORALIDADE: EM PLENO DOMINGO, INCLUSIVE!

Na noite de ontem, eu e um grupo de (melhores) amigos analisamos entre nós o quanto a expressão demeritória “fura-olho” é despropositada num contexto supostamente coadunado – ao menos, em plano teórico – às vicissitudes do amor livre. Enquanto chegamos a uma conclusão coletiva marcada por gargalhadas e batidas em frigideiras, eu introjetava gradativamente um mal-estar que me assola desde que fui associado a algo batizado como “influência virginal”. Na manhã de hoje, o artífice desta expressão tentou me consolar, destacando o a conformação retórica da mesma, mas, ainda assim, me sinto pungentemente afligido por ela: não sei até que ponto ele tem razão e esta tal desta influência me define ou me assola...

 Perplexo que fiquei com a bem-vinda discussão dominical, precisei regurgitar o assunto, de modo que deixei o meu telefone celular desligado durante toda a manhã de hoje. Neste entretempo, assisti a um filme grego chamado “Nunca aos Domingos” (1960), do diretor Jules Dassin, e fiquei impressionado com o quanto o enredo do filme me contemplava. Na trama, um pesquisador de filosofia (interpretado pelo próprio diretor) apaixona-se perdidamente por uma prostituta local chamada Ilya (Melina Mercouri), a quem ele considera fortemente atraente e sorridente, mas pouco instruída. Faz de tudo para convencê-la a abandonar a prostituição, mas ela sente prazer em entregar-se aos clientes que escolhe, ela é prostituta por vocação e se sente muito feliz por isso. Mas ele não a entende: dotado de uma pujança pigmaleônica contemporânea, ele entulha o seu apartamento de livros e discos elitistas, sem ter coragem de admitir que, sobretudo, o que ele mais deseja é fazer sexo com ela. Mas não apenas com o corpo – e, sim, também com o intelecto. O que acontece depois eu não posso revelar: suplico que o filme seja visto. Tenho medo que o meu destino seja deveras semelhante...

 Queria avançar mais, mas uma menstruação dolorosa se instala em minha alma, por falta de lugar para evacuar. Coágulos e cólicos morais se instalam sobre mim. O domingo passou, a segunda-feira chegou, mas tudo isso irá se repetir por muito tempo ainda. Por isso, seguindo a recomendação carinhosa do amigo que cunhou a expressão que tanto me atemorizou, em breve, começarei a leitura de um romance filosófico do Soren Aabye Kierkegaard chamado precisamente “A Repetição”. Não será por acaso. Não será mesmo!

 Wesley PC>

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