sábado, 1 de setembro de 2012

“EU NÃO VOU MUDAR O JEITO QUE SOU, PARA MOSTRAR QUE NÃO PERTENÇO A ELES!”

Por mais que eu cogite – em sentido pascaliano – a possibilidade de não haver um Deus, aposto na crença n'Ele e sou muitíssimo beneficiado por isso! Quando o filme “Jogos Vorazes” (2012, de Gary Ross) estreou, alguns elogios de amigos próximos fizeram com que eu desejasse bastante vê-lo no cinema. Uma série de incidentes impediu a concretização deste anseio, de modo que, vários meses depois, tive acesso ao referido filme numa cópia ruim, baixada pela Internet. Era o suficiente para que eu percebesse não apenas que o filme não presta como ele é moralmente abominável: que bom que eu não desperdicei tempo, dinheiro e ansiedade para ser tão vilipendiado por uma obra absolutamente negativa, sob qualquer parâmetros que seja analisada.

 Roteirizado a partir de um cruzamento acrítico de idéias enredísticas lançadas em ótimos filmes como “Rollerball, os Gladiadores do Futuro” (1975, de Norman Jewison) e “Batalha Real” (2000, de Kinji Fukasaku), e baseado numa bem-vendida série literária escrita por uma tal de Suzanne Collins, “Jogos Vorazes” tem como mote tramático central um jogo de sobrevivência, transmitido por todo o país, adaptado de uma tradição de vassalagem, em que os distritos mais pobres de uma dada distopia têm seus competidores forçosamente escolhidos num sorteio cruel. O modo como esta situação se desenvolve é a mais previsível possível, o que não seria de todo abominável se o filme fosse ritmicamente agradável ou ideologicamente consciente. Porém, ele se deixa propositalmente contaminar pela montagem televisiva criticada pelos personagens, no interior da trama, e erige seus supostos méritos narrativos a partir da presunção de que estamos torcendo pela protagonista (vivida pela bela Jennifer Lawrence) e, por extensão, contra todos os outros participantes do jogo do título, salvo o rapaz tímido por quem ela se apaixona. Não preciso nem revelar como o filme termina, de tão vergonhosamente óbvio que é o desfecho, inclusive em sua abertura para desnecessaríssimas continuações, anunciadas desde já. Espero não precisar me atrever a ver estes filmes vindouros no cinema: uma apologia ao fim do mundo está contida neles! 

Wesley PC>

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