quinta-feira, 20 de setembro de 2012

E, AFINAL, EU MATARIA?

Na cena que mais me impressionou em "Tony Manero" (2008), árduo filme chileno do diretor Pablo Larrain, o amargurado protagonista (Alfredo Castro) defeca no terno branco daquele que parece ser o seu melhor amigo, com receio de que este vencesse o concurso de sósias pelo qual ele tanto anseia por participar. Angustiei-me de ver tal ato de desespero, de inveja, de carência, de fracasso moral, afinal suprimido por uma seqüência política sutilmente avassaladora: o filme é uma grata surpresa!

Assisti a este filme na TV, nos intervalos lamentosos de um somatório de abandonos masculinos que eu não fui capaz de resolver: cavei a minha sina, arcarei com as conseqüências, talvez tenha perdido a minha principal muleta carnal no enfrentamento de minha solidão diuturna. É bem-pregado: quem mandou eu ser um violentador? Um ser que destrói?

Não por coincidência, é justamente assim que se manifesta o protagonista Raul: assassina uma velhinha para roubar-lhe a televisão a cores, com a qual pagará os ladrilhos de vidro que planeja pôr no chão do bar em que dança aos finais de semana; rouba qualquer um que lhe passa pela frente, a fim de assegurar esta obsessão, que chega mesmo a lhe causar impotência sexual diante de uma prostituta que parece estar apaixonado por ele. Espanca até a morte o projecionista de um cinema, somente para assegurar a posse de uma cópia do filme "Os Embalos de Sábado à Noite" (1977, de John Badham), pelo qual é tão obcecado que já o reviu trocentas vezes, a ponto de decorar todos os diálogos em inglês. Temi me identificar com a aflição malévola do personagem: Deus me livre de ser invejoso! Estou com medo do desamparo que se manifestará daqui por diante, mas assumo a minha culpa: eu cavei o meu desgosto. Eu sou um ser que destrói...

Wesley PC>

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