sábado, 1 de setembro de 2012

BESTA SOU EU! (OU DE COMO PERCEBI QUE SEI O QUE NÃO QUERO!)

Na noite de ontem, depois de ter revisto o magnânimo “Hiroshima, Meu Amor” (1959, de Alain Resnais) – que, desta vez, me feriu bem mais que todas as outras – deixei-me levar por uma espécie de convite para um evento ‘pimba’, no qual a elogiada banda sergipana Cabedal executaria na íntegra os célebres discos “Transa” (1972, de Caetano Veloso) e “Acabou Chorare” (1972, de Novos Baianos), por ocasião dos quarenta anos de ambas as obras-primas. Aceitei o que parecia ser um convite. E, se não me atrevo – por orgulho e/ou pirraça – a admitir que me arrependi, tecerei alguns comentários sobre o concerto, afinal, muito bom, como a banda está acostumada em nos oferecer.

Senti-me violentamente deslocado no local, como não me sentia há mais de quinze anos. Era como se eu estivesse regredido aos piores anos de minha adolescência, em que eu constatei que não tinha muito a ver com as pessoas ao meu redor, antes de amar conjuntamente os amigos maravilhosos que tenho hoje. Em dado momento, uma garota bonita e muitíssimo simpática aproximou-se de mim, para dizer que eu era muito inteligente e que, se eu não bebesse ou fumasse algo, me sentiria entediado. Não foi bem o que experimentei: era como se estivesse tomado por uma cólera por ser idiota, cólera destinada a mim mesmo, obviamente. Mas suportei com galhardia toda aquela agonia.

Quatro horas após o horário previsto para o início do concerto, a banda Cabedal subiu ao palco. Explicaram a proposta do evento e iniciaram a execução da egrégia “You Don’t Know Me” (faixa 01 do “Transa”). O disco seria executado na íntegra, conforme prometido. Emoções fortes me tomariam de assalto. Arrepiei-me mais de uma vez durante o ‘show’. “You Don’t Know Me” é um título que tinha muito a ver com o que eu sentia naquele exato momento. E, vendo aquele menino lindo que é o vocalista da banda cantar esta maravilha de canção com tanto vigor, não deu outra: arrepio na espinha!

Não gostei muito da execução de “Nine Out of Ten”: a voz do belíssimo Saulo sandes não se adequou bem à canção, mas, ainda assim, foi uma bela e emocionante apresentação, o mesmo valendo para “Triste Bahia”, em que todos os integrantes da banda demonstraram-se em estado de graça. Eles tocam muito bem, eles são excelentes instrumentistas. E nunca me cansarei de repetir: o vocalista é lindo, canta sempre com um sorriso imenso nos lábios. Impossível não se apaixonar enquanto espectador. E veio “It’s a Long Way”, glupt: maravilhosa!

Conforme era esperado, a execução de “Mora na Filosofia” foi acompanhada por uma extrema participação da platéia: ninguém quis contestar a genialidade de Caetano Veloso ao comentar a desnecessidade da rima fácil entre amor e dor... Aí, a primeira parte do concerto encerrou-se com a virtuosística “Neolithic Man” e com a menos inspirada “Nostalgia” (faixa de que não gosto tanto). A reclamar apenas a transmutação do aspecto fortemente introspectivo do álbum ao jeito desinibido e contente com que a banda canta. Mas foi maravilhoso!

Deu um intervalo, tentei interagir um tanto, parecer menos inútil naquele contexto. A banda volta ao palco, para nos emocionar com “Brasil Pandeiro”, faixa inicial do genial disco dos Novos Baianos. A namorada do vocalista, Renata Abreu, participou da maioria das faixas, interpretando a voz de Baby Consuelo, mas ela não se saiu bem. Prejudicou bastante as melhores canções do álbum, mas, por outro lado, estava bem-intencionada, estava a se divertir. Para mim, isso importou! E começou “Preta Pretinha”. Comoção dançante generalizada na platéia. Afinal de contas, a sonoridade do disco tem muito a ver com o espírito contente do Cabedal. E veio “Tinindo Trincando” para confirmar o que falei anteriormente.

 A faixa instrumental “Um Bilhete Para Didi” talvez fosse o momento máximo do evento, tamanho o talento dos músicos envolvidos no projeto, se não fosse a encantadora execução solitária de Saulo Sandes, ao violão, para a faixa-título do álbum. Se alma se masturbasse, a minha ejacularia rios durante estes minutos, de tão lindo que foi esta apresentação, o mesmo podendo se aplicar às demoradas e bem-vindas execuções de “Swing de Campo Grande” e “Mistério do Planeta”. Por causa do meu já citado descontentamento com a Renata Abreu, “A Menina Dança” não teve o poder que a música exige, mas nada que o hino à alegria plena batizado de “Besta é Tu” não resolvesse. Lindo!

Em seguida à execução dos dois discos, o vocalista anunciou que interpretaria faixas da própria banda Cabedal, “até o sol raiar”. Eu não duvido que ele e seus companheiros o tenham feito com a competência habitual, mas precisei ir embora. Sentia-me triste demais para ser submetido a tamanha beleza. E, mesmo tendo odiado pungentemente a noite, foi bonito, foi lindo. E aquele vocalista é um semideus!

Lamento não ter conseguido tirar uma boa foto do evento, mas é mais ou menos assim que eu enxergo (inclusive, de óculos). Vale pela metonímia fisiológica, acho!

Wesley PC>

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