Na noite de ontem, vi “Fragmentos de um Filme-Esmola: A Sagrada Família” (1972, de João César Monteiro), depois de ter sonhado que uma amiga mui querida era uma espécie de reencarnação da ensaísta Susan Sontag e me conduziu a uma inteligentíssima comparação entre o estilo deste filme e as obras de Manoel de Oliveira. Saí da sessão me sentindo esfuziado e contente, absolutamente impressionado com a genialidade anárquica do filme.
Não há necessariamente uma trama, mas fragmentos, como bem indica o título, complementado pelo fato de que o filme foi realizado a partir de um financiamento monetário adquirido via mendicância. Na primeira seqüência, um homem conversa com sua filha numa cama. Falam sobre as cores da Espanha, sobre a necessidade de chamar os chapéus de sapatos caso andássemos de ponta-cabeça o tempo inteiro, sobre a vacuidade atrelada ao dinheiro. Uma seqüência de mais de dez minutos, em que se acompanha o amor legítimo de um pai por sua descendência consangüínea direta, logo substituída por um abraço choroso entre marido e mulher, e pela antológica cena mostrada na foto, em que os sogros do marido denigrem a sua postura desobediente, tachando-o de antropóide. Pedem que a garotinha escreva algo, a fim de demonstrar que já sabe ler, e esta redige, com uma bela e elogiadíssima caligrafia: "a escola é o retrato cultural do opressor", julgamento certeiro mas rechaçado pelos parentes mais velhos, deveras reacionários. O desfecho violento desta brilhante seqüência antecipa a veemente bravata contra o ideologizado conceito de família que o filme despeja ao final. Saí da sessão me sentindo empolgado e esfuziado: como eu queria que todas as pessoas que eu conheço vissem este filme!
Wesley PC>
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Um comentário:
E eu verei em breve meu bem, sim eu verei!
eu te amo tantoooooo
J.
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