segunda-feira, 6 de agosto de 2012

NUNCA POR FALTA DE TENTATIVA!

Começarei esta resenha com uma exclamação: não consegui desgostar de “Aluga-se Moças” (1982, de Deni Cavalcanti)! Por pior que o erro ortográfico do título deixe entrever que seja a qualidade do filme, a condução dramatúrgica das desventuras femininas das protagonistas me encantou: uma delas (Rita Cadillac, surpreendentemente convincente) não consegue encontrar emprego porque ficou sem trabalhar nos sete anos em que esteve cansada e não sabe mais como se portar num mercado de trabalho que exige o sexo como compensação; outra engravida do namorado, é expulsa de casa pela família, mas recusa a ajuda dele na decisão abortiva; uma terceira se esforça para cuidar da mãe doente; uma quarta (Tânia Gomide) perde a virgindade (induzida por entorpecentes, mas, ainda assim, de forma inicialmente voluntária, mas ela alega que foi “de forma brutal) e sente que não possui mais motivos para viver; e uma quinta (Gretchen) transforma-se, aos poucos, numa cantora de sucesso. Todas elas encontrar-se-ão no cabaré de luxo que leva o título do filme ao final desta produção tosca mas impressionantemente funcional em seus clamores identitários. Comigo funcionou...

Assisti a este filme ao lado de rapaz minuciosamente conhecedor de cabarés, cuja residência é entulhada de material pornográfico e que descreveu para mim, com expressão de nojo, o dia em que descobriu que uma prostituta possuía verrugas venéreas ao enfiar o dedo em sua vagina. Ele sorriu durante quase toda a projeção, enquanto eu quase tendi ao choro na seqüência final, em que Gretchen canta sobre a vontade de ser livre das meretrizes e uma delas se suicida diante dos clientes. Na tela, três letreiros superpostos: “a natureza é perfeita”. “O homem não”. “Consome ou serás consumido”. E eu não entendi necessariamente o que isso tinha a ver com o filme, já que ele é uma verdadeira ode à exploração sexual.

No cabaré em que as moças do título se encontram, elas trocam experiências referentes aos seus trabalhos passados: uma deles é despedida da empresa em que trabalha – e que fora admitida após transar com o patrão – justamente por ter transado com o patrão; algumas se submetem às taras mais bizarras dos clientes da “casa de massagens” (eufemismo para bordel periférico) em que gastam as suas noites; e uma delas, a personagem da Gretchen, masturba-se com um microfone no palco, enfiando o aparelho em sua vagina, como se fosse um vibrador. As atuações são ruins, os diálogos são bizarros (Um exemplo? Quando a cantora agradece a um fotógrafo por não tê-la paquerado, ele se justifica da seguinte forma: “é que eu já tenho muitas namoradas. Deve ser por isso!”), a montagem é precipitada (principalmente no que tange à inserção de planos dessincronizados e repetidos de penetração em meio às cenas de sexo simulado) e o roteiro é tendente ao humor involuntário, por mais dramático que queira parecer, de modo que todos estes elementos fazem pensar que “Aluga-se Moças” seja um péssimo filme. Talvez até devesse, mas eu o achei surpreendente. Quase muito bom! Eu e o companheiro erotizado de sessão, que havia se masturbado três vezes no dia anterior. Suponho que voltarei a falar muito sobre ele por aqui (não conseguia me conter e, de 20 em 20 minutos, o olhava nos olhos e dizia: “tu és fascinante!”), mas, por enquanto, recomendo de paixão este filme: é um documento precioso sobre o Brasil da época em que nasci!

Wesley PC>

Nenhum comentário: