sábado, 11 de agosto de 2012

MINI-MARATONA WALTER HUGO KHOURI #06: “AS ALEGRIAS DO CORPO CESSAM. A ANGÚSTIA, O DESESPERO, A SOLIDÃO... TUDO ISSO CONTINUA PARA SEMPRE!”

Terminada a sessão de “O Último Êxtase” (1973), já estava ansioso para ver um novo filme do Walter Hugo Khouri. Ainda que o filme anterior me instaurasse uma aura de paz adolescente (paz que se soletra P-I-C-A, como acrescentaram meus queridíssimos companheiros de sessão), para além de toda a sua angústia reincidida, eu precisava ser uma lufada do mal-estar anímico que afligia tanto as almas dos personagens khourianos. E isto foi o que encontramos em “As Filhas do Fogo” (1978).

Conhecia pouquíssima coisa sobre este filme, salvo que ele tinha sido rodado na cidade gaúcha de Gramado e abordava um tema espírita, mas o filme transcende qualquer expectativa que eu depositasse sobre ele. Não gostei tanto quanto os meus amigos, mas está acima de “ótimo”. É uma obra muitíssimo coerente tanto em relação ao universo do próprio diretor quanto em relação a si mesma: “é um filme perigoso!”, como sintetizou meu melhor amigo, através de uma mensagem de celular, ao final da sessão.

 Na trama do filme, duas amigas (Paola Morra e Rosina Malbouisson), tão íntimas quanto possível, reencontram-se na opulenta residência campestre de uma delas e, lá, deparam-se com mistérios relacionados ao passado encoberto da família da mesma. Uma das amigas chama-se Ana e a outra Diana. Ambas conhecem a passional caseira Mariana (Maria Rosa), tachada de “devoradora de homens”, que alega gostar daquela residência muito mais que seus proprietários, o que não deixa de ser verdade. Um homem que alega ser riquíssimo suplica um prato de comida na porta da chácara, o que instaura uma discussão sobre luta de classes muito marcante (e personalizada, claro) na obra do diretor. Este faz sexo com Mariana, enquanto implora por vinho, muito vinho. E, nas fronteiras da rica residência onde a ouriçada Mariana vive, encontramos a doutora Dagmar (Karin Rodrigues), uma parapsicóloga que passa o dia inteiro a gravar vozes de pessoas que morreram. Até o desfecho do filme, saberemos que ela era apaixonada (e correspondida) pela falecida mãe de Diana. O resto, só vendo o filme: difícil sintetizar em palavras tanta emoção!

Apesar de eu ter ficado encantado com o filme – lindo em todo o seu vigor lésbico e sobrenatural – meus amigos ficaram ainda mais deslumbrados que eu: seja a amiga que lastimava uma insipidez moral no dia anterior, mas que se arrepiou quando as personagens falam em sincronicidade, seja a minha irmã espiritual, órfã de mãe, que se projetou com toda supremacia típica de seu magnífico ser na reação histérica da personagem Diana ao sinal de que sua angustiada progenitora ainda tenta se comunicar com ela... Um filme belíssimo e estranho, como não poderia ser diferente partindo do idiossincrático ser vivo responsável pela confecção de todos os aspectos mágicos de sua realização. Amo Walter Hugo Khouri!

Wesley PC>

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