domingo, 5 de agosto de 2012

DIFÍCIL DE AGÜENTAR, MUITO DIFÍCIL DE SUPORTAR ATÉ O FINAL!

Já tive várias oportunidades, aqui mesmo neste ‘blog’, de elogiar as proezas directivas de Fauzi Mansur. Por causa dele, dispus-me a suportar os insuportáveis 105 minutos do execrável filme co-roteirizado por Renato Aragão “A Ilha dos Paqueras” (1970), exibido na TV Brasil nesta noite de domingo. Diferentemente dos demais filmes do diretor, em que os chistes concatenavam-se discursivamente a uma idéia – mesmo que rasteira – de liberdade sexual, neste filme é perpetrada uma verdadeira exaltação ao machismo, a ponto de, num dado momento, o personagem Didi argumentar que “mulher é que nem jornal: depois de lido, serve apenas para embrulho!”. O que ele quis dizer com isso? Não sei, mas que achei de péssimo gosto, ah, eu achei!

No que se pode chamar de arremedo de trama deste horroroso pedaço de cinema brasileiro, dois aprendizes de marinheiros fingem-se de tripulantes de uma embarcação de luxo, no qual estão algumas modelos de biquíni sexualmente ouriçadas e protegidas por um agente paspalhão e tarado. Depois de uma enxurrada de piadas sem graça e efeitos de montagem acelerada que acentuam o nonsense do roteiro, o navio naufraga e os personagens vão parar numa ilha controlada por traficantes de armas, tornando ainda mais insuportável a inverossimilhança chauvinista que tomava de assalto o filme. Ao final, eu estava absolutamente extenuado de tanto sujeitar-me a estratagemas regressivos de humor que, a fim de não se demonstrarem completamente inaproveitáveis, fizeram-me sorrir em pelo menos um momento. Quando Didi pergunta ao seu cúmplice Dedé (Dedé Santana), “o que um frango disse para o outro?”. Resposta: ‘vamos ao açougue, ver galinha pelada!’”. Eu ri, não vou mentir.

 Para além de uma ou outra sacada de câmera, das canções italianas emuladas por Dick Danello e uma boa piada de cunho político sobre o esquecimento geracional motivado pela não-menção a gorjetas pelos passageiros do navio, o filme é quase inagüentável. Mais de uma vez, pensei em desistir da sessão. Suportei até o final desenxabido e imoralmente promíscuo sem conseguir prestar atenção às cenas, de tanto que estava enfadado. Mas, enquanto contra-exemplo do que anseio trabalhar em minha distinção dissertativa entre pornochanchadas e filmes dramáticos produzidos pela Boca do Lixo, este filme é paradigmático: muito ruim, preconceituoso e mal-feito. Tomara que eu não precise vê-lo novamente tão cedo!

 Wesley PC>

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