Não assisti ao filme “O Libertino” (2004, de Laurence Dunmore) da forma adequada: dublado e interrompido por vários intervalos comerciais inconvenientes num canal fechado (e subestimado) de TV, tive acesso às primeiras imagens deste filme pelo menos dez minutos após o seu início. Um longo plano giratório em torno de um teatro cujos participantes faziam questão de berrar suas preferências sexuais e/ou escatológicas me fez querer prestar atenção a esta obra, tão elogiada pelo público, sem nenhuma nudez – apesar da obrigação de seu tema – e que poderia ser apelidada de “filme sub-greenawayniano ‘pop’”. A ótima trilha sonora de Michael Nyman – justamente um colaborador habitual de Peter Greenaway –, a fotografia baça de Alexander Melman e as ótimas interpretações de John Malkovich, Samantha Morton e do protagonista Johnny Depp me obrigaram a prestar atenção ao filme, bem como a delicada recepção de meu companheiro de sessão, um jovem sonolento, que adormecia enquanto eu fazia cafuné em seus cabelos crespos, diante de sua mãe com tosse...
Até então, não conhecia o personagem-título, o conde John Wilmot de Rochester (1647-1680), mas fiquei logo fascinado por suas peças teatrais entupidas de luxúria e crítica social. Contratado pelo rei da França para criar uma trama que enobrecesse a corte de seu país, o libertino realiza uma obra absolutamente pornográfica, que o faz ser perseguido e, vivendo na clandestinidade, acentua os efeitos fatais da gonorréia, da sífilis e do alcoolismo que, juntos, o conduziram a uma morte precoce. O que mais me impressionou no roteiro do teatrólogo Stephen Jeffreys foi a sua recusa de um tom condenatório ou comiserativo à biografia do protagonista. Ao invés disso, ele nos lega diálogos preciosos em sua amplitude amoral, como, por exemplo, quando o conde de Rochester encontra uma mulher na rua, a abraça e pergunta: “tu sentiste saudades de mim?”. Ela, seca: “do teu dinheiro”. Ele, sorridente: “melhor assim. Detesto prostitutas com sentimentos”. Fomos conquistados no ato, eu e meu companheiro de sessão.
Conforme relatei anteriormente, o rapaz que tendia a assistir ao filme comigo logo adormeceu. Admirei a robustez de seu corpo por alguns minutos, mas decidi ver o restante do filme em casa, estava interessado no modo como o enredo estava sendo desenvolvido. Lá chegando, percebi que minha mãe via outro programa, de modo que dei como desistente o meu intento espectatorial. Voltei à casa do rapaz e pedi à sua mãe para assistir alguns minutos do filme até que o seriado televisivo que minha mãe via acabasse. Ela consentiu. E, de canto de olho, vi que o objeto de meu desejo caminhava por sua casa, usando uma cueca vermelha que revelava toda a imensidão de seu vigor fálico. Numa cena do filme, uma atriz pergunta ao seu mentor teatral: “tu sentiste vergonha de mim, no palco?”. Ele: “muito pelo contrário. Não suportei o esplendor de teu brilho”. E, ao invés de abrir logo o chuveiro, o rapaz demorava no banheiro, dedicando-se a algo que eu intuía como masturbação...
Abandonei o filme mais uma vez e fui para um quarto contíguo ao banheiro, de onde pude perceber ruídos de movimentação manual repetitiva. Completamente excitado, aproveitei que sua mãe se empanturrava de ovos de codorna na sala e me dependurei sobre a pia da cozinha, a tempo de ver o rapaz de costas, pouco após a ejaculação, juntando os jatos de esperma no chão e limpando as gotas preciosas de sêmen que caíram sobre sua panturrilha. Ele não me viu, de modo que aproveitei a deixa para vê-lo de frente, o pênis intumescido na glande, amolecendo gradualmente, após ter saciado o seu sonolento portador. E, incapaz de conter o meu fulgor igualmente ejaculatório, ingeri alguns mililitros de meu próprio gozo, ali mesmo, diante dos armários de sua cozinha.
Ejaculado, corri para casa, a fim de ver o restante do filme. Esqueci os meus óculos em sua cozinha, voltei para buscá-los, mudei o canal e fui sendo conquistado cada vez mais pela perfeita composição interpretativa do versátil Johnny Depp. Entretanto, ainda estava muito excitado: precisei abandonar o filme mais uma vez para masturbar-me novamente na minha cozinha. De volta à sala, sentei-me numa cadeira de balanço e vi o filme até o final, exultando particularmente quando o protagonista vira-se para uma de suas amantes – em verdade, a preferida – e atira as seguintes palavras: “jamais te perdoarei por teres me ensinado a amar a vida”. Sem pestanejar, transcrevi esta ameaça em meu aparelho de telefonia celular e a enviei para duas pessoas: o rapaz que motivara minhas duas ejaculações sôfregas e consecutivas e alguém que, num contexto similar, talvez dissesse o mesmo sobre mim. E, num caderno depositado na casa do masturbador contumaz que tanto me excita e sacia, eu escrevi a palavra esperança, na noite de anteontem. Era um bom augúrio, atrevo-me agora a pensar...
Wesley PC>
quarta-feira, 4 de julho de 2012
“VOCÊ GOSTA DE MIM AGORA? VOCÊ GOSTA DE MIM AGORA? VOCÊ GOSTA DE MIM AGORA? VOCÊ GOSTA... DE MIM... AGORA?”
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