quarta-feira, 25 de julho de 2012

UMA VOZ AMADA, UM TAPINHA IMAGINÁRIO NAS COSTAS E UMA EXORTAÇÃO DE ENFRENTAMENTO AO VAZIO...

Na noite de ontem, reassisti a um estranhíssimo filme do John Cassavetes chamado “A Morte de um Bookmaker Chinês” (1976). A estranheza está no flerte do diretor com o ‘noir’ tardio, através de um viés que ultrapassa bastante as convenções do gênero, que são mescladas com o estilo muito particular de filmar os seus atores num entrosamento histérico com o mundo ao redor. Apesar de uma ou outra cena de perseguição, de alguns tiroteios e de uma sinopse (aparentemente) mais estruturada que que a dos filmes anteriores, “A Morte de um Bookmaker Chinês” é, na verdade, um profundo estudo de personalidade, para o qual contribui bastante a completa entrega de Ben Gazzara a seu personagem: Cosmo Vitelli troca de lugar com o espectador o filme quase inteiro, como se estivesse a viver a sua própria vida de fora, atordoado que estava com os eventos recentes de sua dívida crescente no jogo, de sua atração apaixonada pelas mulheres, de sua preocupação irrevogável em, de fato, entreter os clientes que vão ao seu clube noturno... É um personagem macho prenhe de dignidade, o que só faz com que o mergulho no inferno relacionado ao narrativo título do filme seja mais incisivo. Talvez por causa desta sessão tão delicada, acordei novamente me sentido visitado pelo vazio, tal qual aconteceu há duas semanas, quando eu fui intimado a comentar o magnífico “Faces” (1968). John Cassavetes tem este poder único: mergulha-nos num vazio, para que entendamos o porquê de estarmos no mundo, cercado por pessoas.

 Ciente de que a referida visita do vazio trazia à tona a responsabilidade de enfrentá-lo com diálogos, interagi bastante na minha aula de hoje, telefonei para o rapaz que mais amo no mundo, ouvi as lamúrias românticas de um amigo heterossexual que enfrenta uma inusitada paixão platônica (leia-se: desdém de mulher divorciada) e lastimei não poder ajudar um irmão de alma doente, que emitia interjeições de dor enquanto tentava comentar sorridentemente as boas notícias que eu lhe dava, acerca de nossos planos espectatoriais futuros. Seja como for, todos estes contatos com seres humanos deram um novo sentido à minha estadia neste mundo: eu estou aqui para fazer o bem, mesmo que, por vezes, isto incomode outras pessoas. Afinal de contas, se existe algo que o John Cassavetes apregoa muito bem por detrás de seus ótimos filmes é que juízos de valor são espúrios quando levamos em consideração que qualquer pessoa pode ter razão. Por isso, hoje dormirei mais cedo: às 7h30’ de amanhã, estarei pondo em prática mais alguns planos de conjunção (eventualmente incômoda) entre a minha existência terrena e as pessoas que me encantam. Boa noite àqueles que me permitem argumentar neste instante: amo vocês!

Wesley PC>

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