sexta-feira, 6 de julho de 2012

POR QUE NÃO DESCE COM FACILIDADE? (OU: É PRECISO DIZER O ÓBVIO?)

Apesar de ser voto comum que “Fuk Fuk à Brasileira” (1986, de Jean Garrett) é um filme genial, ele não está sendo assimilado com facilidade por aquela zona intersticial localizada entre meu cérebro, meu coração e minha genitália: o entreguismo inevitável nas demoradas e enfadonhas cenas de cópula me incomodou bastante, ainda que tenha me causado um gostoso sorriso quando um dos participantes da sessão em que eu estava confessou que teve uma ereção enquanto via o filme. Se eu soubesse, tinha levantado mais um pouco a cabeça, visto que estava deitado sobre suas pernas! (risos)

 Mas, falando sério, o filme me incomodou: por mais que eu tenha me impressionado com a delicada interpretação de Chumbinho como o protagonista “anão, pobre, preto, semi-analfabeto e sem vontade de trampar” que é também telepata; por mais que eu tenha aceitado de muitíssimo bom grado todas as exortações à higienização proporcionada pela masturbação ativista; por mais que eu tenha gargalhado quando o filme se entope de autocrítica ao proclamar que “o cinema brasileiro é uma merda: quando é ruim, é uma merda mesmo, e quando é bom, não deixa de ser uma cagada!”; por mais que eu tenha prestado devoção diante de toda a magnificência surreal daquele roteiro, o filme me incomodou bastante, me deixou até triste após a sessão. Primeiro, porque ele é indício de um tempo de agonia em nossa riquíssima filmografia nacional, que, dali para a frente, só declinaria. Segundo, porque ele evidenciou alguns problemas pessoais que, num cotejo com o enredo do filme, se tornaram muito mais evidentes. E, quando uso aqui o adjetivo “pessoais”, não estou me referindo apenas a mim, mas a diversas pessoas que me cercam e que, recentemente, me confidenciaram imersões platônicas com as quais muito me identifico: ai, meu Deus, estamos nós, os marginais, todos condenados a descer por aquela privada recorrente no filme?!

 Para além de todo este incômodo que me deixa perturbado e um tanto nervoso, insisto que o filme é ótimo e que terei muitas oportunidades e necessidades de falar novamente sobre ele, de forma ainda mais elogiosa e categórica do que hoje. Por ora, eu lido comigo mesmo, com meus sentimentos, com minhas excitações, com minha agonia... Sou fã do Jean Garret! Ponto.

Wesley PC>

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