quarta-feira, 11 de julho de 2012

JÁ QUE TOQUEI NO NOME DO ROBERT DREW (E UM SENTIMENTO QUE ME APERTA O CORAÇÃO)...

Vi “Primárias” (1960) na noite de hoje. Apesar de este filme de Robert Drew, inaugurador do ‘cinema direto’ nos EUA ser um verdadeiro clássico, precisei de um empurrãozinho sindical para ter acesso. E, em sua impressionante combinação de aspectos privados com elementos políticos, ele fascina, sendo, inclusive, o ponto de partida para o posterior “Entreatos” (2004, de João Moreira Salles), impressionante desnudamento do cotidiano daquele que se tornou um dos homens mais importantes do País...

Aqui no Brasil, os detalhes da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva chamaram a atenção por causa da assunção corajosa, por parte do político, dos estratagemas de ‘marketing’ que o cercaram e o transformam fisionomicamente em 2002. No caso estadunidense, o que mais fascina é o paralelismo entre a austeridade do candidato Hubert Humphrey e o seu concorrente bastante carismático, afinal vencedor, John Fitzgerald Kennedy.

Ziguezagueando entre as conferências de Humphrey (que parece o opositor de Charles Foster Kane na obra-prima inicial de Orson Welles) a seus possíveis candidatos – a quem sempre entrega cartões e pede que eles telefonem para o seu palanque caso queiram tirar alguma dúvida de campanha – e o assédio generalizado que Kennedy e sua esposa Jacqueline recebem de diversos admiradores, o filme inaugura um novo modo de penetrar na realidade, fazendo com que as câmeras deslizem sorrateiramente pelos personagens reais, que ignoram a sua presença, como se estivessem num filme de ficção...

Intimidade, portanto, é um termo-chave na relação que Robert Drew estabelece com ambos os pré-candidatos à presidência dos Estados Unidos da América. Os políticos compartilham a sua intimidade com o público de forma bastante inaudita para a época – e ainda hoje, se prestarmos atenção.Durante os créditos finais, por exemplo, sabemos que ambos cederam as músicas-temas de suas campanhas para o filme, de modo que é concomitantemente irônico e simpático o momento final do filme, em que, após sabermos da vitória anunciada de John Kennedy, o ‘jingle’ em homenagem a Hubert Humphrey é executado quase na íntegra. A última imagem que vemos dele, afinal, é sorridente, ao lado de uma mulher que parece sua esposa...

O fato de eu ter assistido a este filme sem legendas, numa cópia ruim, fez com que eu não entendesse direito alguns aspectos, mas o brilhantismo de seqüências como aquela que mostra a família Kennedy apertando as mãos de dezenas – quiçá centenas – de pessoas num comício e o acompanhamento pela câmera dos pés dos votantes na eleição definitiva fez com que, por alguns minutos importantes, eu esquecesse (ou fingisse esquecer) o sentimento de impotência que me apertava o peito, a tristeza aparentemente sem sentido que me oprimia, o mal-estar psicológico que me tomava de assalto desde cedo. Cinema tem esse poder, humanidade tem esse poder!

Wesley PC>

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