terça-feira, 3 de julho de 2012

AS GOTINHAS QUE CAEM (OU, MESMO QUE NÃO HOUVESSE SAL NO ESPERMA, ELE SERIA VALIOSÍSSIMO PARA MIM!)...

Acabo de assistir ao docudrama primevo “Sal Para Svanetia” (1930), em que o inspirado diretor georgiano Mikhail Kalatozov retrata os costumes do vilarejo de Ushguli, localizado no interior de seu país, isolado pela “neve de oito meses” e por imensas construções de pedra que protegem o lugar contra invasores, em que a religião é mais importante para o cotidiano de seus habitantes que as importantes mudanças sociais e políticas trazidas pela Revolução Russa de 1917. Como o filme não esconde a sua faceta propagandística, a exortação ao progresso favorecido pela construção de rodovias é elogiado como mais um avanço soviético na comunicação com todos os povos de sua imensa nação. E, mesmo que o filme não tenha me convencido de todo em seu registro da “natureza rude” que oprime aldeões afligidos por crendices seculares, a beleza das imagens e da música (introduzida ‘a posteriori’) é tanta que o filme inebria!

 Na trama do filme, narrativamente coadunada às inovações técnicas da cinematografia soviética, para além de seu estilo documental, acompanhamos os esvanes enfrentando potenciais invasores, coletando cevada, procurando avidamente por sal, “tão valioso quanto ouro”, enquanto as mulheres debulham os vegetai, tosquiam as ovelhas, realizam as atividades básicas daquela agricultura de subsistência. Na segunda metade do filme, as imagens de um funeral tradicional e a banição de uma parturiente são intercaladas: em relação ao primeiro, destacam-se costumes como fazer com que um cavalo cavalgue até a morte e o hábito de os amigos e parentes do falecido deitarem-se na cova, depois de entregarem moedas ao pároco local; em ralação ao segundo evento, sabemos que é conspirado um ato impuro que alguém nasça durante um enterro, de modo que as mulheres grávidas são exiladas com párias, costumando os recém-nascidos morrerem de frio e inanição. Cachorros aparecem para lamber o sangue umbilical, visto que, “no sangue, também há sal”, prática de reaproveitamento salino recorrente no filme, visto que vemos bois lambendo os beiços antes de ingerir a urina de um pecuarista e mulheres férteis despejando leite de seus peitos sobre o túmulo de suas crianças falecidas. Nem mesmo as fezes dos animais são desperdiçadas. "A natureza é áspera", insiste um intertítulo.

 Satisfeitíssimo que fiquei enquanto via o filme, não consegui deixar de pensar num ato similar de aproveitamento benfazejo de uma secreção humana, visto que, após mais de um mês de abstinência, finalmente consegui extrair preciosas gotículas seminais de um rapaz que mora nas proximidades de minha residência e que, no momento em pauta, vestia uma camiseta verde, em que se lia, em letras vermelhas, “te sentes bêbado? Faça o teste grátis de bafômetro aqui”. Uma seta vermelha gigantesca apontava para a sua região fálica, que, no caso especifico deste rapaz, era também bastante avantajada. Não me sentia necessariamente bêbado quando li a inscrição de sua camiseta, mas saí de sua residência positivamente embriagado, de modo que as imagens do filme só confirmaram o meu bem-estar, ainda que as mesmas fossem apresentadas num viés crítico, condenando o atraso em que viviam aqueles agricultores primários. Um problema propagandístico fácil de ser ignorado ou invertido, ora pois!

Wesley PC>

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