sábado, 7 de julho de 2012

AQUILO QUE VICIA...

Nesta madrugada, acordei com meu irmão bêbado tentando se deitar sobre mim. Ele não havia percebido que eu estava em minha cama e, por algum motivo estranho, não quis ficar em seu quarto. Fui deitar na cama de minha mãe e, ao despertar, recebi um telefonema de meu melhor amigo, dizendo que havia tido um terrível pesadelo, em que um amigo em comum havia sido baleado na cabeça por russos ou alemães... Enquanto ouvia a descrição do pesadelo, comentei com ele que, na manhã de hoje, assisti a dois filmes da chamada ‘moral exploitation’ sub-hollywoodiana: “The Pace That Kills” (1935, de William A. O’Connor) e “Mad Youth” (1939, de Melville Shyer). Ambos os títulos são ruins, mas, cada qual a seu modo, são importantes na análise histórica do combate cinematográfico moralista aos vícios adolescentes.

O primeiro dos filmes, anteriormente batizado “The Cocaine Fiends”, conta a estória real de uma garota do interior que vai para a cidade grande e termina envolvida com um traficante de cocaína e, por extensão, viciada nesta droga. Seu irmão vai à sua procura, mas termina igualmente viciado, apaixonado por uma moçoila bondosa e inocente que, sem perceber, se entrega tanto a ele que decide se suicidar por não conseguir enfrentar os seus arroubos involuntariamente abstinentes por causa do desemprego. O final é tragicamente feliz, mas narrativamente inconvincente. Muito ruim!

O segundo filme, por sua vez, é mais interessante em sua abordagem narrativa: uma senhora rica recusa-se a admitir que está envelhecendo e liga quase todos os dias para uma agencia de gigolôs, em busca de homens mais jovens. Sua filha, que costuma dar festas em casa enquanto ela vai para os bailes e partidas de cartas, apaixona-se por um destes gigolôs e o regenera, mas, quando ele finalmente consegue “um emprego de cidadão”, ela está refém de uma agência criminosa de prostituição, ao lado de sua melhor amiga. O final é igualmente feliz, menos trágico e bem mais convincente, inclusive porque o filme chama a atenção pelas inusitadas cenas de dança e simulação cômica de touradas (risos). Quase bom!

 O meu intento secundário com a audiência a estes filmes tecnicamente chinfrins é ajudar o arcabouço analítico da monografia de um rapaz cujo interesse transcende as determinações acadêmicas, tanto o meu interesse pessoal em relação a ele quanto os seus interesses em relação ao tema. Enquanto via os filmes, porém, comecei a comparar os meus delírios platônicos com os sintomas de viciosidade passional que costumam me tomar de assalto ao longo dos meus dias de existência. Paixonite é doença? Tem cura? Justifica um filme sub-hollywodiano intervencionista da década de 1930? Tenho certeza que sim, conforme bem demonstra o caráter falacioso destas perguntas truístas, capciosas e tendentes à manutenção do meu vício em estar apaixonado por outrem. Assim sendo, queridos leitores, solicito que não constem dos autos julgamentais as convulsões vocabulares deste último parágrafo. Sou viciado em estar apaixonado!

 Wesley PC> 

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