sábado, 2 de junho de 2012

PARA QUE NÃO DIGAM QUE EU NÃO FALEI DA MARCHA OU, SIM, MINHA QUERIDA VADIA, EU APRECIO GESTOS SIMBÓLICOS!

Direto ao ponto: antes de ontem, 1º de junho de 2012, eu não conseguia assumir um posicionamento preciso em relação à Marcha das Vadias de Aracaju. Conversara com uma amiga que estava na organização do evento e o máximo que me chamava a atenção eram as contradições discursivas e os cortes de classe que poderiam ser detectados na tal marcha. O propósito reivindicativo na mesma não me parecia tão claro, amparado em objetos precisos. Temia que o evento redundasse em propagandas partidárias, mais do mesmo pré-eleitoral. Fui ao evento mais para rever amigos queridos do que necessariamente para aderir ao protesto...

Para minha surpresa, entretanto, a marcha foi conduzida com muita seriedade e sensatez panfletária: para além de uma ou outra contradição inevitável (vide o momento em que uma protestante elogia o fato de a presidenta do Brasil ser uma mulher para, logo em seguida, suas colegas pegarem o microfone e gritarem “Dilma não nos representa! Dilma não nos representa!”), a passeata foi muitíssimo bem-sucedida em suas exposições da causa feminina. Mais do que isso, da causa humana!

Como eu estava à margem da passeata, pude observar os comentários dos transeuntes no Centro da Cidade: duas mulheres de meia-idade tentavam entender qual era o objetivo da parada, mas não se mostraram opositoras à mesma; dois guardas de banco comentavam entre si que a manifestação era bonita; comerciantes sorriam... Foi bonito! Apesar de não me sentir contemplado por alguns posicionamentos efusivos (num dado momento, alguém conclama os manifestantes: “quem não pular é machista!”), fiquei impressionado com a coerência e direcionamento positivo dos cartazes empunhados: num deles, lia-se “mulher bonita é aquela que luta”; noutro, um amigo descamisado se perguntava até que ponto é óbvio que um homem sem camisa deseja ser estuprado. Assunções pintadas ao bissexualismo e contra o que foi tachado de “heterossexualidade obrigatória" por uma das conclamantes abundavam, bem como mulheres com decotes duplamente ousados e homens pintados com batons ou vestidos com saias ou demais peças da indumentária tradicionalmente associada às raparigas. Quem visse o que eu vi ficaria satisfeito. E, quando alguém pede aos caminhantes que pintassem as suas mãos com tinta guache vermelha como gesto simbólico em homenagem ao sangue derramado pelas mulheres ao redor do mundo, eu exultei: que bonito!

Não seria nenhuma surpresa que eu reclamasse aqui de alguns disparates exibicionistas ou tendentes à associação político-partidária, mas estes foram breves, suprimidos pela consistência defensiva de causa da Marcha como um todo. Na fala de uma das autodeclaradas vadias, por exemplo, uma garota aproveitou a deixa para clamar pela reforma Agrária. Uma miga minha aproveitou o gancho e defendeu o Poliamor. Tudo cabia naquela Marcha: eis o que ela teve de mais consistente, a organicidade. Com toda e qualquer ressalva, grito orgulhoso: GOSTEI MUITO DO QUE VI E OUVI! 

Wesley PC>

2 comentários:

ju disse...

Sim Wesley, primeiramente me impresionei com a sua presença por lá... E tb, com o qe vi naqele exato dia, fiqei orgulhosa de ajudar a proporcionar o qe vivi! Sua colocação aqi foi de extrema importancia com relação a supresão de fatos por muito@s esperados, através de uma "consciencia defenciva dos valores da Marcha"...
bei-Juh!

Gomorra disse...

E eu te amo, Juliana!
E aprendo contigo a cada segundo...
Ponto!

WPC>