quinta-feira, 7 de junho de 2012

IDEOLOGÍA (com acento no I)

Não é surpresa para ninguém que “Alô, Amigos” (1942, de Wilfred Jackson, Jack Kinney, Hamilton Luske & Bill Roberts) peca por sua verve ideológica generalizante e abarcadora. Menos surpresa ainda é que ele seja um filme muito bom. Mas, entre um e outro adjetivo, há um incômodo irreparável, que tem muito a ver com o que o teórico francês Alain Herscovici quer dizer quando alega que “o Estado financia certos bens culturais tendo geralmente como objetivo a democratização cultural, baixando o preço para o consumidor final, o que deveria aumentar o consumo. Mas, na realidade, todas as pesquisas sobre o público das instituições culturais mostram que só as classes sociais que têm um nível de renda mais alto se beneficiam desses financiamentos” (página 129 de “L’unité économique du secteur de la communication” – 1989). Talvez seja uma assertiva óbvia, mas nunca suficiente repetida e, ainda pior, nunca adequadamente apreendida – de propósito!

 Nos 42 minutos de “Alô, Amigos”, o Pato Donald visita o lago Titicaca, no Peru, e entra em conflito com uma lhama sobre uma frágil ponte suspensa que desaba, no primeiro episódio, e, mais tarde, se embebedará ao lado do malandro papagaio brasileiro Zé Carioca. Antes desse último evento, um parente gaúcho do vaqueiro Pateta se dispõe a um cotejo entre os hábitos típicos dos fazendeiros argentinos e os pioneiros estadunidenses. Tudo muito ideológico, obviamente, mas, por incrível que pareça, o episódio do filme que mais gostei foi justamente aquele que mais me irritou a princípio: a antropomorfização de uma família de aviões chilenos, responsável pelo transporte do malote postal ao redor do monte Aconcágua. Fiquei encantado com a determinação do aviãozinho Pedro e com a bonomia de seus pais. Sou manipulável, portanto.

Wesley PC>

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