terça-feira, 12 de junho de 2012

ESPELHO, ESPELHO MEU, ALGUÉM TEM SONHOS TÃO ASSUSTADORES E/OU ADMOESTATÓRIOS QUANTO OS MEUS?


A Jadson Teles, onde quer que ele esteja.

 Em “Pesadelo Macabro”, terceiro episódio do ótimo filme “Trilogia de Terror” (1968), José Mojica Marins conta a estória de um leitor contumaz de Edgar Allan Poe que, tal qual o seu autor e a maioria de seus personagens, desenvolve uma tafofobia crônica. Tem pesadelos cada vez mais assustadores, em que se imagina cercado por homens deformados e animais peçonhentos das mais diversas espécies. Num primeiro momento, parecia que o episódio seria uma mera reiteração dos cenários infernais que o próprio diretor emulara em filmes anteriores, mas “Pesadelo Macabro” vai além disso: é um filme que assusta de verdade!

Na madrugada de ontem para hoje, sonhei que bombardeariam o lugar onde moro. Tento avisar da desgraça iminente a meus vizinhos, mas estes se preocupam apenas com a atriz que posará nua na capa da próxima edição da revista Playboy. As emissoras de TV entrevistam insistentemente a atriz Erika Mader, que seria a modelo em pauta. Depois que vê algumas imagens sensuais da referida atriz, um vizinho excita-se tanto que corre para o banheiro, com a desculpa de que precisa tomar banho, o me deixa obviamente exasperado de tanta excitação e inveja (“por que eu não nasci um chuveiro?” – risos). Novamente preocupado com a destruição iminente do lugar em que vivo, saio caminhando pelas ruas moribundas, em busca do que parecia ser um filho e, ao mesmo tempo, um amante: um guri de 10 anos obcecado por salames que dormia num campo de futebol abandonado. Quando eu finalmente o encontro, chovia. Conversamos sobre a poluição dos rios ao nosso redor, enquanto eu me continha para não beijá-lo: era um garoto novo demais, era crime investir na concretização passional que me parecia tão acessível naquele instante. Paguei-lhe um pedaço de salame e continuei andando. Até onde, não sei: acordei me sentindo algo entre desesperado e triste!

 No primeiro episódio do filme, “O Acordo”, dirigido por Ozualdo Candeias, havia uma mulher que faz um pacto com o demônio a fim de que sua filha se recuperasse de um mal-estar duradouro, definido como “manha” por um médico popular. Há pouco, quando eu suspirava de alegada infelicidade, enquanto relembrava o sonho, minha mãe me propôs justamente um acordo: “a cada palavra ‘tristeza’ que tu pronunciares, tu me pagarás vinte Reais”. Paguei-lhe a metade, no intuito de que ela compre um pote de sorvete que fará bem a ambos.

 Por fim, o cotejo que talvez seja a razão de ser defensiva para este pequeno texto: a genialidade política do segundo episódio do filme, “Procissão dos Mortos”, dirigido por Luís Sérgio Person, e o exemplo literário (a cargo de um tal de G. K. Chesterton) de que Antonio Gramsci se vale para examinar os meandros mutáveis do conceito de natureza humana. No filme personiano, um garoto que caçava pássaros encontra um cadáver cuja procedência é completamente negada pela polícia, o que desencadeia uma comparação com a morte de Che Guevara, de modo que, mais tarde, o próprio fantasma do guerrilheiro argentino assombrará não apenas o pai moralista do garoto como ensinará este a atirar e defender a sua pátria. No exemplo citado no livro gramsciano que estou lendo, uma mulher rica visita uma amiga que vive enclausurada com pelo menos vinte empregados. Logo que chega, a outra grita: “estou sempre tão sozinha!”, ao que a visitante replica que há uma epidemia de cólera na cidade. A mulher solitária então fica preocupadíssima: “mas tem tanta gente ao redor de mim!”. Dia dos namorados faz a gente refletir, não é?

Wesley PC>

4 comentários:

Lucy Rielo disse...

rapaz, seus sonhos mereceriam uma análise psicológica, apesar que hoje sonhei que tinha uma jaguatirica e andava toda feliz com ela pela rua Oo

então quer dizer que gostaria de ter sido um chuveiro..rs mas chuveiro só faz jogar água em cima nada mais

Gomorra disse...

Jogar água em cima, no contexto em pauta, já me faria feliz (risos), no sentido mais oportunamente filantrópico do termo (hehehehe)

WPC>

Jadson Teles disse...

te amo e te quero e te preciso!

Gomorra disse...

Idem, Jadson, mais do que IDEM! (WPC>)