sábado, 16 de junho de 2012

COMO SE FOSSE UM FLAGRANTE OU “ESTOU POUCO ME LIXANDO!” (É MENTIRA!)

Pessoalmente angustiado com a notícia da morte de Carlos Reichenbach – além de ser um de seus fãs inveterados, eu aventava a possibilidade de entrevistá-lo, mais cedo ou mais tarde, por causa de sua importante contribuição técnica aos filmes da Boca do Lixo paulistana, tema de minha dissertação de Mestrado – não me controle e assisti sozinho à sua obra-prima, “O Império do Desejo” (1981). Para além de toda a genialidade referencial e política do filme, o que mais me flagrou durante a sessão foi a minha flagrante identificação com aqueles personagens, em especial o ‘hippie’ que passa o dia inteiro de cueca, para cima e para baixo, se lamentando porque não sabe “onde termina o libertário e onde começa o promíscuo” em suas ações de caráter erótico. Numa cena-chave, quiçá a que mais me atingiu biograficamente, ele se sente enciumado e impotente depois que consente que sua namorada adolescente faça sexo com o gigolô por quem se sente atraída, que, afinal, a violenta. Surpreendentemente, ele se percebe cobrado pela burguesa que o contrata, visto que, apesar de ser “quadrada”, ela lida muito melhor com a situação de compartilhamento sexual possível do que ele. Quando, no desfecho do filme, ele goza com sua namorada enquanto o reabilitado advogado (antes, sovina e machista; agora, naturista e bissexual) se afoga e exclama “felicidade, felicidade...”, eu senti que a autocrítica do filme era muitíssimo destinada a mim também: desejo sexual é uma faca de mil gumes! No afã por satisfazer esta sede erotógena, incorremos em traições (morais, políticas, existenciais) sem que percebamos a tempo: na noite de ontem, por exemplo, quando esta foto pouco inspirada foi captada, eu me acocorava diante de uma calçada, na chuva, ansioso para que a namorada interiorana de um vizinho fosse para casa e, caso eles não tivessem transado, eu pudesse sorver alguma gotas preciosas de seu “estrato de leite macho”. Ele adormeceu antes que ela partisse e, a mim, restou contemplar uma ereção tímida que era ensaiada por sobre o tecido leve de seu calção vermelho. Por sorte – e para minha tranqüilidade interior, inclusive – não me senti frustrado por não obter diretamente aquilo por que esperava: apenas ver o meu amado amante jazendo tranquilamente em seu sofá, depois de ter passado vários minutos a uma rapariga que também o ama, eu exultei. Bastava-me isso para me sentir um tantinho feliz, depois de experimentar por tanto tempo a angústia de saber que um dos maiores gênios ativos do cinema brasileiro não está mais entre nós. Afinal, tudo fazia sentido: e, mais uma vez, me lembrei do diálogo inicial do filme, em que uma dama burguesa e seu gigolô universitário discutem a relação assimétrica de afeto. A cena é enquadrada por detrás de um ventilador de teto e somos agraciados por nus frontais de ambos os atores, de modo que, quando o gigolô ameaça deixar a burguesa se esta não lhe conseguir mais dinheiro, ela encosta a sua cabeça em sua genitália e exclama: “como eu poderia viver sem esta maravilha que tu tens no meio das pernas?!”. Talvez, num momento de angústia imediata, esta fosse uma pergunta desesperada que eu direcionada a dados interlocutores. Senti-me um tanto traído e/ou abandonado por alguns minutos. Mas, no sereno da noite e comunicando-me com alguns dos meus melhores amigos via mensagens de celular, eu senti que estava muitíssimo bem-acompanhado, que havia um Deus zelando por mim, e que amar é muito mais bonito e amplo do que simplesmente desejar: amar é entender, (per)doar, ceder e, sobretudo, saber esperar! 

Wesley PC>

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