quarta-feira, 20 de junho de 2012

BREVES APONTAMENTOS (NÃO-RESPONSIVOS) SOBRE A FUTURA CONSTITUIÇÃO DE UMA ‘INTELLIGENTSIA’ SERGIPANA – E UMA INTERROGAÇÃO GIGANTESCA SOBRE O PAPEL DA COMUNIDADE GOMORRA NESSE PROCESSO...

Não possuo boas lembranças sobre minha apreciação infantil da telessérie animada “Os Smurfs”. Assisti ontem, por acaso, a um episódio da mesma e achei-o particularmente insuportável em seus estereótipos ideológicos de uma sociedade em que cada personagem possui um papel a desenvolver, papel este cravado em sua própria constituição física: a mulher é o objeto sexual de todos os homens; o que usa óculos é o intelectual do grupo; o mais velho é o sábio conselheiro; o que anda sem camisa é o rapaz dos armengues, etc.. E, tentando destruí-los, o malévolo Gargamel e seu gato Cruel...

 Pensei em escrever algo sobre isso ontem mesmo, quando uma sessão fílmica e um encontro de amigos pensantes num terminal rodoviário acrescentaram novos elementos à minha análise: após o equivocadíssimo filme “Uma Longa Viagem” (2012, de Lúcia Murat), sobre os destinos diametralmente opostos dos dois irmãos da diretora – um, formado em Medicina; o outro, decidido a experimentar todos os tipos possíveis de “expansores do músculo cerebral” – o anfitrião do evento argumentou que “apesar da discussão estética ser interessante, não é isso o que nos interessa aqui” (sic), maneira que encontrou para me alfinetar quando demonstrei publicamente o meu desagrado contra a sua infeliz declaração de que “o uso de drogas pode ser uma fuga, mas é também uma maneira de mudar o mundo” (hã?). Para além de minhas opiniões conservadoras sobre o tema, achei o seu ponto de vista aberrante, de modo que, após alguns instantes, fiquei pensando comigo mesmo porque não evitei me desgastar com o pronunciamento de argumentos discursivos veementemente incompreendidos. Seria mais digno ou interessante deixá-lo falando sozinho? É uma pergunta!

 Após as minhas intervenções polemistas e francamente discordantes no debate, conversei com alguns amigos sobre os perigos e conseqüências de se ficar calado num debate onde as corruptelas pretensamente intelectuais são disseminadas através de microfones franqueados tanto por capital público quanto privado. E eu calado, diante de tudo isso? Não, senhor! Mas... E o desgaste individual, confundido por alguns com vaidade? É um efeito colateral aguardado, acrescentaria. Pretendo voltar a este tema, de forma ainda mais incisiva, mas, por enquanto, deixo Glauber Rocha instigar por mim, através de um artigo bombástico, publicado em 1979, chamado “Fogo na Kultura”: “a esterilidade crítica produz um rigorismo dependente de subjetividades estéticas dialeticamente reestruturadas como camisas-de-força – porque se o crítico ouve o som e vive a fúria, ele se transforma em seu próprio objeto artístico, espermiza a experiência criativa e rompe a explicação do mundo pelo seu sentimento, eterna revelação”. E, assim, eu me submeto ao escárnio coletivo. Pois, ao contrário do que disseram ontem à noite, a Política, mesmo quando individualizada no resgate de memórias ou particularizada no seio de uma família, é sempre de cunho social!

Wesley PC>

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