quarta-feira, 23 de maio de 2012

“A REVOLUÇÃO É FEITA POR PESSOAS, NÃO POR INDIVÍDUOS!” (TEORIA VERSUS PRÁTICA)

Ouvi este prognóstico num filme argentino que não conhecia [“A Noite dos Lápis” (1986, de Héctor Olivera)], mas que me chamou a atenção positiva justamente por causa de sua adequação a um discurso político nacional bastante coerente. O filme em si não é muito bom, mas os seus fundamentos reivindicativos são demasiado sólidos, o que faz com que eu mantenha o meu vigor defensivo acerca do cinema argentino como sendo uma das filmografias mais interessantes, em seu conjunto, já realizadas. Até hoje, aliás: afinal de contas, nos filmes argentinos – mesmo os exemplares mais convencionalmente genéricos – os problemas da Nação são sempre o ponto de partida para as crises dos personagens, por mais egoístas ou abestalhados que estes pareçam.

Na trama do filme ora comentado, um grupo de estudantes secundaristas nos é apresentado durante um protesto pelo direito da meia-passagem estudantil. Obtiveram êxito. Porém, eles continuaram a se reunir em atividades consideradas subversivas, de modo que são capturados pelo governo militar e torturados e aprisionados até a morte. Pior: seus paradeiros nunca foram oficialmente confirmados. São designados como “desaparecidos” até hoje! Impossível não se emocionar com as cenas em que os amigos entoam canções de protesto em suas celas ou com a reexibição, na cena final, de fotografias em que eles erguem, contentes, os seus cadastros de transporte escolar, obtidos a partir do protesto que dá nome ao filme. Com certeza, ele merece ser mais bem conhecido, (e valorizado) do que é.

Em minha opinião, o que talvez tenha impedido o filme de alçar vôos qualitatuvos mais amplos –  já que seu roteiro é coeso e atordoante – foi a má interpretação do personagem principal, Pablo Díaz (Alejo García Pintos), um garoto chistoso e apático, e alguns atropelos técnico-narrativos atrelados à utilização da trilha sonora xaroposa e dos “alívios cômicos” enredísticos, mas nada que justificasse o debate insosso ao final da sessão em que ele foi apresentado, debate este que será assunto para postagens vindouras, visto que vi este filme como parte de uma programação cinematográfica batizada de “América Recontada” numa universidade particular sergipana. Quando eu me atrevi a participar do tal debate, na noite desta terça-feira, a minha intervenção discursiva foi tachada de “tecnicista”. Fiz de conta que não entendi o erro de interpretação, ao passo que assegurei a minha disposição em externar algumas opiniões polêmicas na discussão dos dias vindouros, quarta e quinta-feira. Que venham, portanto!Por ora, ainda estou a digerir o que apreendi e aprendi no filme...

 Wesley PC>

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