domingo, 27 de maio de 2012

DA UNANIMIDADE PARA BAIXO, ZERO!

O que teria levado Conrado Sanchez, diretor de um dos filmes semipornográficos que mais me afetaram pessoalmente (vide panegíricos psicanalíticos aqui e aqui) a se render ao tenebroso testemunho cadente da autopromoção ridícula da execrável artista Carla Perez? Existem atos malévolos que nem mesmo a necessidade de comer justifica! “Cinderela Baiana” (1998), sintagma e paradigmaticamente, é a prova viva disto!

Acabei de assistir a este subproduto cinematográfico brasileiro e, simplesmente, não acredito no que vi. Aliás, acredito: não obstante o filme ter sido justificadamente execrado pelo populacho, incorri na mais crassa ingenuidade ao imaginar que algo de válido pudesse ser extraído deste filme... É uma desgraça, pura e simplesmente! O discurso final da protagonista, em que ela gagueja ao demonstrar-se contrária às campanhas demagógicas que fingem ajudar as crianças de beira de estrada, mas não se preocupam verdadeiramente com a necessidade de amor que elas sentem, é um testemunho da vilania altissonante desta obra: assistir àquelas crianças dançando “Melô do Tchan” na última cena do filme é um descalabro atroz! Periga até que eu tenha pesadelos por causa dela na noite de hoje...

 Não sei se cabe uma sinopse do filme aqui, mas lá vai: por mais que os créditos finais insistam em dizer que não há qualquer semelhança entre os personagens e pessoas reais, a estória da loirinha pobre, que vê sua mãe morrer na miséria, mas que, apesar disso, consegue chegar ao estrelato graças ao seu talento nato para a dança, é o mito biográfico que ronda a ex-dançarina do grupo É o Tchan!. Porém, ao contrário do filme anterior do Conrado Sanchez, não há nada que mereça o mínimo crédito dramático aqui, nem por vias acidentais, visto que as contradições do retrato da pobreza extremada da adolescente Carla são evidentes. Ou alguém é convencido que aquela rapariga loira, correndo as ruas lamacentas de Salvador com saia curta e pés descalços para mendigar acarajé, é merecedora de nossa comiseração espectatorial? Eu não fui. Senti pena do coitado do Lázaro Ramos, socado neste filme de décima quinta categoria. Horrível!

O mais esquisito no filme, porém, não é a previsibilidade aberrante da saga da protagonista, mas sim o contraponto empregatício com o pai dela, que ascende gradativamente na firma de contabilidade na qual trabalha, mas que não contribui em absolutamente nada para atenuar a penúria indumentária e alimentícia de sua filha. Subjacente à escalada para o sucesso da personagem Carla, está o pai e o avantesma da mãe, ambos insistindo ideologicamente que, “com o término dos estudos, há a esperança de uma vida melhor”. E Carla Perez, quando perguntada se participará de uma seleção para dançarina, retruca: “seleção? Mas eu nem sei jogar futebol!”. Melhor nem comentar, né? Nota zero para o filme!

Wesley PC>

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