segunda-feira, 28 de maio de 2012

COMO BEM DEMONSTRA O FOTOGRAMA, NORMA BENGELL INTERPRETA FELICIDADE...

Impossível sair emocional ou intelectual inane de “Mar de Rosas” (1977, de Ana Carolina). Histérico do início ao fim, este filme genial foi exibido no Canal Brasil no início da madrugada de hoje. Fiz questão de assisti-lo, já sabendo que se tratava da primeira parte de uma trilogia da diretora-autora sobre a condição feminina, continuada por “Das Tripas Coração” (1982, já visto) e “Sonho de Valsa” (1987, na espera). Difícil classificar ele como comédia ou como drama: é um filme em que se gargalha, mas, ao mesmo tempo, é trágico e sadista do início ao fim!

Ironicamente, qualquer fotograma do filme faz questão de negar uma associação simbólica imediata, mas Norma Bengell (maravilhosamente assemelhada a Jeanne Moreau, física e psicologicamente) interpreta uma esposa insatisfeita de nome Felicidade. Tenta conversar com o marido diversas vezes (vivido por Hugo Carvana), mas este não a deixa falar. Diz que sua vida "não pode ser resumida a um pingo [no I]" Sua filha Betinha (Cristina Pereira, em estado anárquico de graça) é completamente desmiolada e ignora as frustrações de sua mãe, que, num ápice de desespero, assassina o marido num motel. Foge com a filha, mas esta perfura o seu pescoço com um alfinete e taca fogo em suas pernas num posto de gasolina, obrigando-a a aceitar a carona suspeita do personagem de Otávio Augusto, que, mais tarde, ela tachará, aos berros, de “meganha” de seu marido. Quando é atropelada por um ônibus, Felicidade é acolhida pelo casal vivido por Myriam Muniz e Ary Fontoura, que beira a esquizofrenia em seu casamento falido e permeado por rimas, como “hoje eu saí do trabalho e minha mulher me mandou comprar alho, caralho!”. Gargalhei o filme quase inteiro, apesar de aquele aperto estranho no peito. É um filme triste, como bem demonstra Felicidade, quando agarra sua filha pelo braço, quando ela tencionava fugir, e grita: “vigilância é o preço da eterna liberdade”. E, ao final, era como se Betinha parecesse estar livre. Comemora a liberdade, mas...

 No caminho para a universidade, mais cedo, tropecei numa pedra e quase derrubei meus óculos no chão. Quebrei o meu chinelo e, quando fui ao banheiro lavar as mãos (por sorte, não havia nenhum sabonete com lâminas de barbear em seu interior, como no filme), enxergo, através do espelho, um garoto com farda de colégio guardar o pênis por sobre o seu calção. Ele ficou envergonhado, eu fiquei excitado, mas ambos precisávamos continuar nossos caminhos. Eu, arrastando a chinela, e ele... Ele, eu não sei! Não olhei para trás.

 Wesley PC>

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