sexta-feira, 27 de abril de 2012

SONHO (ERÓTICO) REPETIDO!

Eu estava quase adormecendo quando optei por assisti ao filme brasileiro “A Menina e o Estuprador” (1982, de Conrado Sanchez) na TV. Apesar do título apelativo e dos primeiros minutos não-convidativos de trama, decidi ver o filme até o final porque ele era curtinho e, afinal de contas, tinha muito a ver com o escopo de minha pesquisa de mestrado. Aos poucos, entretanto, a concepção abobalhada do personagem Arlindo (Léo Magalhães), obcecado pela intocada Vanessa (Vanessa Alves), que quase toda noite sonha ser estuprada pelo mordomo Pedro (Zózimo Bulbul), me excitou – no sentido mais forte do termo: por mais reducionista, apelativa e pornográfica que seja a simplificação freudiana da trama, eu me identifiquei deveras com o mal-estar civilizatório da protagonista. Ao final, aquilo que parecia lixo sub-aproveitável no primeiro terço tornou-se um de meus filmes psicanalíticos favoritos: a vida dá mesmo muitas voltas!

Dentre as cenas que me fizeram ficar apaixonado pelo filme – irregular e mal-feito até o talo! – está aquela em que a protagonista se imagina deflorada por dois trabalhadores braçais, que esfregam o sangue que escorre da vagina dela por todo o corpo. Na trilha sonora, uma versão instrumental alucinante de “Another Brick in the Wall”, do Pink Floyd. Noutro momento, uma música composta por grunhidos e acordes altissonantes de piano serve de trilha sonora para as consultas psicológicas atemorizantes de Vanessa, que é perseguida sexualmente por seu analista. As inserções de uma seqüência explícita de felação e de uma cena interrompida de masturbação masculina contribuíram para que o filme fosse efetivo no que tange à minha excitação erotógena, visto que, nesse tipo de filme, quando artistas como Ody Fraga, Jean Garrett ou David Cardoso não estão por trás das câmeras, um moralismo canhestro disfarçado de exploração indébita da nudez feminina costuma entrar em cena e me irritar politicamente. Não foi o que aconteceu neste filme, em especial, na segunda metade: reflexões pertinazes sobre impotência sexual masculina e bloqueio penetrativo feminino me tomaram subjetivamente de assalto, obrigando-me a repensar meus traumas, tabus e bloqueios eróticos. Noutro momento inspiradíssimo do filme, por exemplo, a protagonista passeia por zonas industriais e descamba em bairros proletários, numa clara demonstração de que não somente o diretor do filme conhece o cinema de Michelangelo Antonioni como, com certeza, ele deve ter visto e se inspirado em “A Noite” (1961).

Estou surpreso com o filme, absolutamente chocado: como eu posso gostar tanto de um filme que eu sei que é ruim?! Simples: libertando-me de grilhões valorativos construídos e repisados por um esquema industrial capitalista que fetichiza e espetaculariza até mesmo a padronização dos devaneios sexuais mais íntimos. Intuo fortemente que hoje serei afligido por meu pesadelo sexual recorrente, em que observo um dado rapaz banhar-se diante de mim, mas sendo interrompido nesta contemplação voyeurística elementar pelas mais diferentes contingências, que redundam num incomodo (porém bem-vindo) despertar. Boa sorte para mim e para o rapaz dos meus sonhos, portanto. Aliás, por falar nisso, quem sabe um dia eu não tenha a sorte de sorrir, depois de um ato sexual com penetração, tal qual a redimida personagem de Vanessa Alves na cena final do filme, na qual cochilei, mas logo pude resgatá-la, isoladamente, num ‘site’ voltado à pornografia comercial? Como diz um sensível amigo meu, ressignificar é preciso!

Wesley PC>  

3 comentários:

Jadson Teles disse...

Acho que Freud e Feyerabend vão lhe fazer muito bem enquanto companhia para sua pesquisa, quero muito ler o que você tem a escrever sobre a pornochanchada! J.

ADEMAR AMANCIO disse...

Pois é,eu li a dissertação dele e gostei muito.

ADEMAR AMANCIO disse...

Enfim,um homossexual falando abertamente sobre problema com penetração,eu não gosto de jeito nenhum,o sofrimento de não ter vagina é grande demais.