domingo, 1 de abril de 2012

HOMENAGEM ÍNTIMA AO CINEASTA LINDSAY ANDERSON (1923-1994)– OU SEJA, DOIS AGRADECIMENTOS:

• PARTE 2 DE 2 (MAS PUBLICADO ANTES): A VELHICE

Na noite de ontem, eu e alguns amigos choramos como crianças na terceira idade. Choramos altissonantemente, num dado momento. Estávamos vendo “Baleias de Agosto” (1987), um dos filmes cabalísticos de minha adolescência. Fazia mais de uma década que eu não revia este filme, o qual eu tinha gravado numa cópia VHS dublada que muito me enchia de orgulho. Revendo-o, pude comprovar que o canto do cisne do cineasta britânico Lindsay Anderson é mesmo uma obra-prima. Além de ter reunido três verdadeiros mitos do cinema (Lillian Gish, Bette Davis e Vincent Price), o cineasta teve o grande mérito de adaptar uma peça teatral sobre a velhice e a proximidade inevitável da morte de um modo particularmente arrebatador por causa do modo como impulsiona a identificação com quem o assiste. Na noite de ontem, portanto, eu e alguns amigos choramos como crianças na terceira idade.

Numa das cenas mais emocionantes, uma senhora idosa e bastante rabugenta esfrega um tufo de cabelos, quiçá do marido morto, em seu rosto. Ela não mais enxergava as diversas fotografias espalhadas em seu quarto, de modo que as suas reminiscências são conservadas através dos sentidos que ainda funcionavam. “Não gosto de fotografias. Fotografias se apagam com o tempo, memórias duram para sempre”, diz ela num dado contexto, ao que recebe como réplica: “as memórias também se apagam com o tempo”. Quem pode dizer quem tem ou não razão nesta pendenga mnemônica? Na falta de uma resposta definitiva, tive meu rosto lavado pelas lágrimas. E não fui o único. Obra-prima este filme!

• PARTE 1 DE 2 (MAS PUBLICADO DEPOIS): A JUVENTUDE

Terminada a sessão de “Baleias de Agosto”, me vi diante de uma exigência: “preciso ver outro filme do Lindsay Anderson o quanto antes!”. Remexi os meus balangandãs e me deparei com uma cópia do clássico “Se...” (1968), filme mais famoso do diretor, laureado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes quando foi lançado. Um dos filmes preferidos de um amigo cinéfilo e uma obra que instaurou o desentendimento receptivo nas mentes dos colegas de trabalho a quem emprestei uma cópia, “Se...” é um filme estranho e, ao mesmo tempo, muito compreensível em sua tese denuncista: nos calabouços (físicos e psicológicos) de uma escola extremamente tradicional inglesa, existe um arsenal bélico que será apropriado pelos alunos mais ousados (e, conseqüentemente, castigados) e será a ferramenta definitiva para uma possível modificação dos parâmetros educacionais vigentes. Em poucas palavras, é sobre isso o que o filme fala, mas a sutileza da direção foi o que mais me impressionou: o modo delicado e efetivo com que uma jovem segura um pote contendo um feto imerso no formol, o modo apaixonado com que um rapaz observa um galante atleta se exercitando no colégio, o modo recorrente com que o protagonista ouve um excerto operístico sacro, diversos são os momentos tendenciosamente epifânicos desta obra que, se não me emocionou tanto quanto o derradeiro filme do diretor, com certeza me fez perceber que há um libelo por liberdade premente em toda a sua obra. Conclusão: preciso ver mais filmes do Lindsay Anderson!

Wesley PC>

Um comentário:

Lucy Rielo disse...

Sem dúvida é um belíssimo filme e que bela foi a sua narrativa para despertar a curiosidade de quem ainda não viu e aumentar o desejo de rever esses artistas para mim tão queridos, em um filme que foi como uma homenagem a essas grandes figuras dando vida a tão belos personagens.