segunda-feira, 9 de abril de 2012

CRIME MAIOR É SE PRIVAR!

Havia me programado para assistir a um filme importantíssimo em companhia de um amigo, neste domingo, quando uma visita pessoal advertiu-me de que eu teria que procurar um plano secundário de entretenimento. A televisão da sala estava ocupada por meu irmão e minha mãe, de modo que resolvi assistir a um filme curto no quarto. Optei pela produção japonesa de horror semipornográfico “Parasita Sexual: A Vagina Assassina” (2004, de Takao Nakano), sobre uma cientista que é infectada por uma espécie de mutação amazônica do peixe candiru e é mantida congelada, depois que se torna uma devoradora (literal) de homens. Um ano se passa e cinco turistas jovens e inconseqüentes invadem o local onde a cientista está aprisionada em estado criogênico. Eles descongelam-na por acidente e, um a um, são atacados pela vagina dentada da mulher, que não passa de um avatar esvaziado de personalidade do peixe mutante gigantesco. Obviamente, detestei o filme!

Ao final da sessão, estava com um sono intenso, o que talvez fosse uma conseqüência psicológica do abandono culposo dos meus planos dominicais. Dormi às 23h33’ e acordei chateadíssimo e muito mal-humorado pouco antes das 8h. Dormi demais! Li uma mensagem eletrônica emocionante de uma professora que me trata como filho acadêmico adotado e, enquanto comia o cuscuz com leite que minha mãe havia preparado, assisti a um longa-metragem documental impressionante no canal fechado HBO2. Ou seja, era um documentário impressionante, porém dublado! Tratava-se de “Crimes de Amor em Kabul” (2011, de Tanaz Eshaghian), sobre garotas presas por causa de infrações legais relacionadas a sexo antes do casamento. A equipe do documentário acompanha três em particular: uma rapariga de 18 anos que fora comprovada virgem (ao menos em patamar vaginal) pelas autoridades médicas, mas ainda assim foi condenada; uma jovem divorciada que se recusa a casar com o filho da mulher que a amparou quando ela fugiu de casa; e uma moça que engravidou de um homem casado, com o qual se casa na cadeia (o rapaz mostrado no segundo plano da imagem abaixo, muito bonito por sinal). Apesar de as condenações serem chocantes para o nosso crivo ocidental, o filme não julga nem os condenadores nem as condenadas. Mantém-se à distância, nos limites possíveis da objetividade, mostrando-nos os diversos ângulos da questão prisional feminina afegã, inclusive o cotidiano das agentes carcerárias do local. Fiquei impressionado e gnosiologicamente contemplado. Mas, dentro de mim, a pulsão virginal gritava: apesar de ter me identificado bem mais com o ótimo segundo filme, o mau primeiro filme parece óbvio em sua imposição desejosa. Estou carente!

Wesley PC>

2 comentários:

Lucy Rielo disse...

Esses japoneses são muito loucos..rs fiquei imaginando esse filme que deve ter sido realmente medonho, como será que o diretor convidou os atores? Queria ver a cara da atriz na hora de ler o roteiro.
Agora o Irã é um país louco mas no mau sentido. Tudo bem estou falando do meu ponto de vista ocidental, mas as mulheres lá são menos que nada, um filme interessante sobre esse tema é o círculo. Há um círculo difícil de ser rompido pelas iranianas, e as ousadas são duramente punidas.

Gomorra disse...

De fato, receio concordar contigo... mas, por outro lado, uma das coisas mais interessantes e inteligentes neste documentário sobre o sistema prisional feminino afegão é que ele NÃO julga a cultura alheia. Por mais que nós, ocidentais, sejamos tentados a achar isso mesmo, as mulheres de lá (tratadas como lixo ou não) reproduzem o sistema de preconceito que sofrem na própria pele... Cultura é algo complicado. Fica a indignação justificada, velada e, acima de tudo, limitada pelas distâncias ainda não conhecidas! (WPC>)