sexta-feira, 16 de março de 2012

“COBIÇAMOS O QUE VEMOS... TODOS OS DIAS!”

Outro aspecto da atitude dos povos primitivos para com seus governantes relembra um procedimento que é comum nas neuroses em geral, mas vem à luz naquilo que é conhecido como delírio persecutório. A importância de uma pessoa é determinada e imensamente exagerada e seu poder absoluto é aumentado até o grau mais improvável, a fim de poder ser mais fácil torná-la responsável por tudo de desagradável que o paciente possa experimentar”. [Sigmund Freud – TOTEM E TABU – Seção (b) – “O Tabu Relativo aos Governantes” – da parte (3) do capítulo 2, ‘Tabu e Ambivalência Emocional’]

Ponto de partida 01: é assim que o psiquiatra canibal Hannibal Lecter explica o surgimento de uma determinada psicopatia no clássico de suspense “O Silêncio dos Inocentes” (1991, de Jonathan Demme). No filme, um homossexual enrustido deseja tornar-se mulher e, para além de suas limitações defensivas ao preconceituoso social depositado sobre ele, decide assassinar garotas com o tipo físico semelhante ao seu e, assim, construir um vestido feminino de pele. Antes de provar o tal vestido, ele esconde o pênis entre suas pernas e, durante o instante eternizado na fotografia, ele fala para uma quarta parede imaginária: “eu foderia comigo mesmo!”. Apesar de não querer necessariamente ser mulher (não preciso disso!), já repeti esta mesma frase em diversos contextos, inclusive numa inconsciente imitação desta perfeita cena cinematográfica!

Ponto de partida 02: apesar de ter o filho de mãe solteira Jadson Teles como o meu melhor amigo desde 1996, até 2004 eu não perceber que tinha uma corruptela de nojo em relação a sua pessoa. Por mais tempo que passássemos juntos e por mais que eu o amasse como algo superior a um irmão, até ser fulminado por um filme magistral do Mike Nichols que eu vira no cinema, eu nunca havia lhe dito isso. De repente, percebi que, em oito anos, eu nunca havia lhe abraçado. Corrigi o defeito em breve e, hoje, não sinto nenhum nojo dele: pelo contrário, careço dele ao meu lado como um filho que não sente desconforto em, eventualmente, tocar nos mamilos de seu pai. Mas já conversamos muito sobre este assunto, o que nem de longe contribuiu para que a relevância psicanalítica do mesmo fosse esgotada, em especial, quando comparada com o tipo de relacionamento amistoso que eu tinha com outro amigo, Américo, outrora demasiado íntimo, do qual sentia também essa espécie de “nojo amistoso” (se é que o oximoro existe), não obstante termos nos beijado na boca numa das fases iniciais de nossas apresentações enquanto pessoas...

Ponto de partida 03: acordei tarde na manhã de hoje. Havia sonhado que um determinado amigo masculino, cada vez mais íntimo no parâmetro recente, mostrava-se nu para mim e, onde eu cria que veria um pênis esquálido porém atraente, deparei-me com uma vagina de mais ou menos 12 anos, depilada e, do modo como se apresentava no sonho, feia. Antes de escovar os dentes, apressei-me em redigir uma mensagem ao amigo em questão, perguntando se eu poderia vê-lo nu. Não obtive uma resposta precisa, o que é socialmente compreensível, mas não necessariamente entendível no contexto que eu queria abordar aqui: na última semana, fiquei subconscientemente chateado com ele, pois precisei muito conversar sobre uns problemas emocionais sérios que me afligiram, mas ele estava ocupado, incapaz de responder do modo como eu queria e precisava ao que eu queria e precisava. Uma desilusão pessoal muito profunda fez com que, quando eu o reencontrei – após um hiato inaceitável, e hodiernamente incomum – eu não tivesse motivação emocional para dizer o que tanto me perturbou nos últimos dias. Mas sorrimos deveras. E, na madrugada de hoje, tive um sonho, que bem poderia ser um pesadelo, no que tange aos significados ainda trabalhados no plano consciencioso e que, pelo visto, redundarão numa agradável conversa de mais de 2 horas. Viver é divertido, mas, em meu caso particular, diversão implica também uma dose necessária de desconforto!

Acabaram-se os pontos de partida textuais. Segue uma conclusão freudiana: “o ato obsessivo é ostensivamente uma proteção contra o ato proibido, mas, na realidade, a nosso ver, trata-se de uma repetição dele” (grifos do autor). Minha mãe deixou um prato de comida sobre o sofá. Faço por bem em saciar este meu desejo alimentício básico, não é?

Wesley PC>

2 comentários:

Jadson Teles disse...

só uma coisinha: EU TE AMO!
J.

Pseudokane3 disse...

Obrigado, estou precisando muito ouvir isso.

E dizer também: TE AMO em retorno! (WPC>)