quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

QUANDO OS SÍMBOLOS OPRIMEM...

Hoje eu fui intimado a comparecer como testemunha de um processo jurídico solicitado por um colega de classe, que deseja mudar de nome. Apesar de ser homem e ter nome de homem, ele se sente mulher, já deu entrada no tratamento para posterior mudança de sexo e anseia para ser registrado como Dafnne Vitória, que é como ele se reconhece nomenclaturalmente. Não sei direito o porquê de eu ser escolhido para depor (enquanto trabalho burocrático, tenho um ponto de vista muito definido sobre o assunto, que talvez não agrade ao colega em questão), mas tive que comparecer ao fórum assim mesmo – e, Deus do céu, como me assustei com o que vi lá!

A audiência estava marcada para as 10h30’ da manhã. Cheguei ás 10h25’, no mesmo horário em que meu colega estava chegando, andando de salto alto num terreno pedregoso. Adentramos o fórum, deparamo-nos com um aparelho de TV ligado na Rede Globo, sentamo-nos e esperamos a nossa vez. Quando entramos na sala da audiência, percebemos que havia pessoas esquisitas no local. Mais tarde, fui levado a intuir que se tratavam de estudantes de Direito com o direito de assistir aos ensaios de julgamento ali travados. Normal. Mas o que mais me intimidou, para além da complexidade inaudita do caso em pauta foi a presença ostensiva e intimidadora de um gigantesco crucifixo na sala. Num local reservado à “justiça dos homens”, deparamo-nos com um símbolo de um dos maiores erros de julgamento da História. Naquele instante, senti medo. Muito medo, juro que senti medo!

Passados 10 minutos, pouco antes de a corregedora (ou algum título parecido) chegar, pediram que eu saísse da sala. Eu saí. E esperei, enquanto vasculhava as paredes esbranquiçadas do local em busca de mais cruzes. Depois de algum tempo, meu colega de classe saí da sala indignado, pois ofereceram-lhe a possibilidade de ter os dois nomes (um masculino e outro feminino) no mesmo documento, o que, para ele, pareceu aviltante. O processo foi cancelado. “No final do ano, eu começo tudo de novo – depois de já estar tomando hormônios femininos, inclusive!”, acrescentou ele. E eu fui trabalhar, intimidado. Deus que me livre de precisar de um advogado. Literalmente, nos dois casos!

Wesley PC>

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