sábado, 11 de fevereiro de 2012

APESAR DE APARENTEMENTE TER NOS CONVENCIDO, ESTE NICHOLAS SPARKS DEFINITIVAMENTE NÃO ME CONVENCEU!

“Pesquisei o mercado, escolhi o meu tema (uma história de amor), evoquei um casal de personagens baseados nos avós de minha esposa e, antes de escrever a primeira palavra, passei dois meses pensando no enredo. Naquela época, o mal de Alzheimer era presença constante nos noticiários. Decidi que a doença seria o ‘veículo’ que eu usaria para criar o senso de tragédia necessário para uma história de amor de qualidade. Digitei 80 mil palavras, enxuguei para 25 mil e, em janeiro de 1995, terminei o livro”.

É assim que o autor de “Diário de uma Paixão” (1996) confessa os seus intentos literários num segmento de posfácio intitulado “Nicholas Sparks por Nicholas Sparks”. Apesar de ter gostado muito e chorado aos cântaros durante a sessão do filme de Nick Cassavetes baseado neste livro, desgostei solenemente do produto original. Este livro me enfastiou de uma forma lancinante, beirando a insuportabilidade mesmo. Por mais crente que eu seja nesse tipo de amor devocional intensivo e por mais crédulo que eu seja em relação às opiniões de minhas amigas que se derreteram pelo livro, sou obrigado a defenestrá-lo criticamente: o estilo do autor é chavonado ao extremo, repetitivo em seu tom lamurioso, usando e abusando de menções a poetas célebres da literatura anglofílica. Essa última característica, aliás, é responsável pela escritura da segunda melhor página do livro, quando o protagonista Noah recebe a notícia de que sua amável esposa Allie está afligida por uma doença mnemodegenerativa e a única coisa em que ele consegue pensar é numa dupla de versos do poeta britânico Charles Ledley: “no drowning man can know which drop/ Of water his last breath did stop”. De fato, qual afogado pode lembrar qual foi a última gota d’água que sorveu antes de morrer? Preciosa rima!

A página que mais gostei do livro já foi descrita aqui mesmo neste ‘blog’, quando o autor descreve a solidão atual do personagem Noah Calhoun, aos 31 anos de idade, em sua morada idílica e permeada por fantasmas doces do passado, com a qual obviamente me identifiquei, mas, de resto, por mais bela que seja a fidelidade do personagem ao longo de 49 anos exatos de matrimônio – e até mais – irritei-me com a delicadeza vendável com que são descritos os encontros amorosos dos personagens. Achei tudo muito oportunista e mercadologicamente direcionado, com o próprio autor não faz questão de esconder em seu depoimento. Insisto que o filme derivado deste livro é lindo e sinto muita vontade de revê-lo nesse instante, mas não me senti convencido por esta estória de amor não. Muito pelo contrário, estou irritado até!

Não vou mentir que, quando perguntado sobre se ainda lembro de meu primeiro amor, pensei com estranha nostalgia interrogativa numa menina de 9 anos chamada Sarah, por quem me apaixonei na terceira série e nunca mais vi na vida, ao mesmo tempo em que passei em revista os meus amores hodiernos, mas, para mim, o tom de realização profissional e possessiva subjacente aos cuidados afetivos do tal Noah foram inconvincentes. Não quero aquilo para mim. Ter passado a noite de ontem na casa de uma mulher divorciada e, ao que parece, feliz só serviu para acentuar a minha resistência a esse tipo de ladainha convertida em ‘best-seller’. Comigo, o buraco deve ser mesmo mais embaixo...

Wesley PC>

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