sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

“FINGEM DIZER UMA COISA E DIZEM OUTRA, FINGEM SER FRÍVOLAS, MAS, AO SITUAREM-SE PARA ALÉM DO CONHECIMENTO DO PÚBLICO, REFORÇAM O ESTADO DE SERVIDÃO.”

Assim proclamam Theodor Adorno e Mar Horkheimer , acerca dos produtos da Indústria Cultural, na canônica obra literária “Dialética do Esclarecimento”, publicada originalmente em 1947, que firmou definitivamente as bases do que hoje conhecemos como Teoria Crítica da Escola de Frankfurt. Complicado para mim ler algo tão determinista e prenhe de razão como isso e, ao mesmo tempo, sentir um mínimo de prazer durante a audiência de “Glee 3D – O Filme”, dirigido em 2011 por Kevin Tancharoen. Trata-se de um paradocumentário sobre os bastidores de uma turnê do concerto promovido pelos personagens do seriado televisivo “Glee”, do qual apreciei deveras a primeira temporada, achei mediana a segunda e, por ora, não me disponho ou sinto interessado a ver a terceira. Baixei o sétimo volume dos discos com a trilha sonora da telessérie na noite de ontem, por mera convenção de fã quase desistente e, por mais que eu admita o quão esta série é deletéria em seus intuitos comerciais (que ficam ainda mais evidentes no documentário), não consigo deixar de me identificar ou emocionar com uma ou outra passagem dalguns episódios. Gosto dos personagens: isso talvez não tenha cura imediata!

Além de mostrar os bastidores do concerto, “Glee 3D – O Filme” também se dedica a contar as estórias de vida dalguns fãs inveterados cujas vidas foram “mudadas” pelo seriado: um homossexual adolescente que se sentiu confiante para assumir a sua pederastia depois que um dos personagens da série fez algo parecido; uma jovem gorda e portadora de Síndrome de Asperger que passou a cultivar um ciclo de amizades direcionadas depois que a série estreou; e uma anã que vence o concurso de Rainha do Baile na cerimônia de formatura de seu colégio. Histórias superficiais de vitória e superação que só denotam a verve auto-ajudante do seriado, no sentido mais criticável do termo. Eis o que mais me incomoda na terceira temporada do mesmo, aliás. Ao invés dos conflitos e dilemas envolvendo os romances não-correspondidos de outrora, estes episódios mais recentes centram-se em dramas pretensamente mais “adultos”. A maioria dos amigos que também apreciam o seriado está apreciando bastante esta nova fase, enquanto eu particularmente estou desgostando. Evitando, até! Queria eu que fosse pelos motivos frankfurtianos que intitulam esta postagem, mas não sei se é apenas por isso. Derrotismo na tela é algo que vicia, no plano da identificação, e, nesse sentido, não estou sendo mais retroalimentado. Por isso, os defensores da teoria culturológica que se seguiu à teoria crítica têm também razão ao promulgarem que “até mesmo a estandardização precisa de originalidade”. A derrocada hodierna de “Glee” é uma demonstração cabal desta assertiva!

Wesley PC>

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