domingo, 22 de janeiro de 2012

É POSSÍVEL QUE NOS SINTAMOS MAIS ESTÚPIDOS APÓS LER ALGO?

Quem acompanha este ‘blog’ há algum tempo, sabe que, em meio aos clássicos da Literatura e obras iconoclastas que me interessam, submeto-me eventualmente a livros de baixo calão, escritos por (sub)personalidades como Paulo Coelho ou Bruna Surfistinha. Em ambos os casos mencionados, o motor de interesse era o mesmo: atingir, de alguma forma, um rapaz que muito me interessava, mas que, concomitantemente, atirava-me um desprezo paradoxalmente combinado com uma admiração influente que ameaçaria cair por terra se ele próprio não mantivesse uma relação inconfessadamente atrativa com os títulos em questão. Tal como eu, este rapaz desejado é também um fruto do tempo hodierno e sente na pele e no intelecto as conseqüências dilacerantes de uma contemporaneidade que lima quem se arrisca a ser (e/ou parecer) inteligente. Isto me serve enquanto justificativa? Não? OK, vamos ao parágrafo seguinte:

Na manhã de hoje, como parte das leituras obrigatórias para a prova de Mestrado a que pretendo me submeter no próximo dia 30 de janeiro, li um artigo do professor norte-americano de Filosofia da Educação Douglas Kellner. O nome do artigo era “Cultura da Mídia e Triunfo do Espetáculo” e fora publicado no Brasil no livro organizado por Dênis de Moraes “Sociedade Midiatizada”, lançado em 2006 pela editora Mauad. No artigo em pauta, o autor cita a si mesmo diversas vezes para explicar-nos por que ele diverge das concepções do situacionista francês Guy Debord e comenta que os pareceres deste autor são radicais e não condizentes com a atualidade, visto que ele não leva em consideração as situações em que o espetáculo “falha”, como, por exemplo, quando Michael Jackson é desmascarado pelo público quando tentava parecer mais negro do que era num concerto em família. Sim, vocês leram corretamente: este é o ridículo argumento comparativo de Douglas Kellner!

Diz ele: “estou ciente de que a concepção de (Guy) Debord sobre a sociedade do espetáculo sobrepuja a minha própria análise sobre as contradições do espetáculo. Um debordiano poderia argumentar que, apesar das vicissitudes do espetáculo do McDonald’s, do espetáculo da Nike acerca de suas práticas de trabalho, e outras contradições e contestações s espetáculos dentro das sociedades capitalistas contemporâneas, ainda assim o capitalismo continua a existir mais poderoso do que nunca (...) Apesar deste argumento ser difícil de rebater diante da contínua hegemonia global do capital, acho que é útil analisar as contradições e contestações do espetáculo dentro de sociedades específicas para esclarecer a noção de que os espetáculos políticos são todo-poderosos e avassaladores.” (‘apud’ MORAES, 2006: 136-137). Hã? É isso mesmo?! Pois é, leitores camaradas e queridos, segundo este tal de Douglas Kellner, a concepção generalista do Guy Debord pode ser corrigida e atualizada com base em exemplos direcionados do cotidiano estadunidense. Há o que se contestar depois disso? Pelo sim, pelo não, eu é que não releio este artigo, sob pena de emburrecer antes da prova. Será que eu e o autor lemos o mesmo livro? A minha interpretação debordiana segue outro âmbito, no qual, sim, sim, eu sou muitíssimo culpado de alimentar – inclusive, com esta postagem – a sociedade espetaculosa que intento criticar aqui. Eis, mais uma vez, o paradoxo!

E sim, sim: da mesma forma que Guy Debord e seus amigos desprendiam bastante tempo nos cafés parisienses paquerando as moçoilas transeuntes – conforme vimos, inclusive, no ótimo curta-metragem “Crítica da Separação” (1961), dirigido pelo próprio Guy Debord – eu permaneço – e permanecerei eternamente, por mais que tentem me provar o contrário – apaixonado pelo rapaz que, involuntariamente ou não, me levou a ler e resenhar “O Doce Veneno do Escorpião” e “O Diário de um Mago”. Sou destes, fazer o quê?

Wesley PC>

Nenhum comentário: