sábado, 17 de dezembro de 2011

“A PRIMEIRA CRIATURA NA TERRA A TER CONSCIÊNCIA DO TEMPO FOI A PRIMEIRA CRIATURA A SORRIR”... (OU COMO NÃO AMAR JEAN-LUC GODARD COM VIGOR?)

Cometi um erro gravíssimo ao ler, por acidente, um resumo da trama de “Infelizmente Para Mim” (1993), filme menos badalado do Jean-Luc Godard, antes de assisti-lo, na tarde de hoje. Meu intuito ao pesquisar algo sobre o filme era apenas descobrir a sua duração. Apesar de durar menos que 90 minutos, aquelas imagens e diálogos e sons cravaram-se eternamente no meu cérebro: por mais que seja humanamente impossível decorar todos aqueles rompantes cruzados de genialidade, o filme me tocou pessoalmente. Jean-Luc Godard tem uma relação muito íntima com Deus, ele pode.

“ - Cinco dias atrás, eu descobri que a carne é fraca...
- Quem te disse esta coisa sem sentido?!
- O meu corpo.”


Enquanto eu buscava uma fotografia para ilustrar esta postagem, deparei-me com uma sinopse que tinha muito a ver com o que eu havia entendido do filme. No primeiro resumo que li, destacava-se o caso de adultério e conseqüente crise matrimonial entre os personagens Simon e Rachel (respectivamente, Gerard Depardieu e Laurence Masliah). No segundo resumo, o adultério é levado a um estágio mais extremo: Rachel trai o seu marido com ele mesmo, depois que este é supostamente possuído por um espírito divino. Ao final, dois homens “atiram a primeira pedra”. E eu ficava repetindo para mim mesmo alguns dos extraordinários apotegmas do filme: * “o passado nunca morre, nada passou ainda”... ; * “a Verdade possui vários atributos, mas ser transmissível não é um deles”; * “axioma 1: uma proposição é positiva quando a sua negação é negativa”. Meu Deus, eu tinha que estar com um caderninho de anotações diante da TV!

O que é ainda mais interessante nesta minha interpretação (apologeticamente) religiosa do filme é que o rapaz que me deu este filme de presente é ateu e é conhecido justamente pelo apelido sobrenominal “Deus”. Durante a sessão, enviei-lhe diversas mensagens de celular, posto que ele sente dores fortes, advindas de uma moléstia ainda não anunciada. Estou preocupado com ele, já que ele não me deu resposta. E eu amo o "Deus invisível" que, de formas bastante diferentes, o jansenista Blaise Pascal e o agnóstico (?) Jean-Luc Godard consagram!

Wesley PC>

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