quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

“O IMPORTANTE É AMAR” (1975, de Andrzej Zulawski): NÃO COMENTÁRIOS, MAS REVERBERAÇÕES...

Na primeira cena do filme, a personagem de Romy Schneider não consegue dizer que ama um dado moribundo. Chora, mas não consegue. Pede que não a fotografem, e não consegue. Era um filme dentro do filme e eu já previa que eu me emocionaria deveras diante deste filme: sou fã do Andrzej Zulawski e, até mesmo no mundo real, ele é caótico, explosivo, genial!

Não sei como resumir o que me tomou de assalto diante deste filme: é pessoal, é íntimo, por mais compartilhado que eu pretenda, o que eu senti aqui explode lá dentro. No máximo, o que poderei mostrar são as conseqüências. Muito corajosa a Romy Schneider!

“O Importante é Amar” situa-se entre dois maravilhosos filmes zulawskianos vistos anteriormente: o historicamente perturbador “O Diabo” (1972), em que gozos e assassinatos são cometidos em meio ao caos bélico; e “Possessão” (1981), em que gozos e assassinatos são cometidos em meio ao caos marital. Dois filmes foram suficientes para entender o estilo violento de interpretações posto em cena pelo diretor, em cujas obras os atores choram, se digladiam, sofrem, são vitimados por uma espécie particular e contagiante de epilepsia. Por isso, fiquei intrigado ao conhecer a trama deste filme, cujo título é infinitamente mais singelo que os demais. Mal sabia eu que encontraria ali o que eu pensava que encontraria de fato: genialidade corrosiva, pela qual se paga um preço sangüíneo e nerval. Amar dói, Andrzej Zulawski sabe disso muito bem!

Tentei escrever outro desfile de apologias sobre este filme, noutro canto, mas, quem disse que eu consigo ser fiel ao que estou sentindo? Talvez se eu utilizasse uma citação direta do filme, quem sabe? Não custa tentar: em dado momento, o fotógrafo (Fabio Testi) que se apaixona pela atriz desqualificada/subestimada do filme encontra-se com um amigo padecendo de ‘delirium tremens’. Este vive numa imensa biblioteca, ao lado do cachorro. Sua ex-mulher lhe traíra com o amigo em pauta. Angustiado, ele resolve comer ração de gato (“no rótulo dizem que faz bem!”). Ele passa mal – não por isso, diga-se de passagem – e morre, mas antes compõe um adágio genial, daqueles que fazem os companheiros de sessão tremer: “a solidão é a higiene da alma”. Quem teria coragem de dizer que não? O importante é amar!

Wesley PC>

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