domingo, 18 de dezembro de 2011

O AZOUGUE DO DOMINGOS OLIVEIRA (REIMAGINANDO A PERDA DE MINHA VIRGINDADE):

Domingos Oliveira é uma criatura muito esquisita como ator: aquela voz perenemente bêbada, quase ininteligível nalgumas silabas, aquela confiança de velho comedor de menininhas, apesar de já ter passado dos 60 anos há muito tempo, uma antipatia inicial que logo se converte em identificação inevitável... Faço questão de ver seus filmes, sempre que me deparo com algum deles, irrito-me bastante no comecinho e logo me vejo fã da obra em questão. Na tarde de hoje, domingo, vi “Amores”, realizado em 1998, após anos de hiato directivo cinematográfico. No elenco e na composição do roteiro, a sua filha Maria Mariana, que interpreta a sua filha no filme. Tenho que pensar e sentir um pouco antes de escrever algo sobre o filme: Acabo de ver “Amores”. No filme, o diretor e roteirista interpreta Vieira, um aburguesa funcionário da TV Globo, que acabara de levar um tapa na cara do namorado mais jovem se sua filha Cintia. Ela, por sua vez, apaixona-se e engravida pelo melhor amigo dele, cuja esposa tenta engravidar há tempos. Todos são fãs de Fiódor Dostoiévski, autor cujo livro mais famoso ainda não foi lido por mim. Além dos quatro personagens já citados, há um casal formado por uma comediante e um pintor bissexual, que descobre estar com AIDS. Ao final, possíveis finais felizes, numa trama descontraída que mostra “a vida como ela é”. A vida dos intelectuais endinheirados cariocas, diga-se de passagem, daqueles que podem se sentir confortavelmente aptos para definirem um Procurador Geral do Estado como “um homem pago para dizer ‘não’”. Lembrei do irmão de um amigo meu no ato, com esta frase. Pensei em lhe enviar uma mensagem de celular, recomendando-o o filme, mas confortei-me em imaginar que ele estará lendo este depoimento aqui: Domingos Oliveira é um cineasta autoral que precisa ser (re)conhecido naturalmente. Não entendo porque ele é tão subestimado, já que faz jus à alcunha de “Woody Allen tupiniquim”. A amargura bem-humorada de suas piadas sobre casamentos desfeitos e/ou refeitos contagia. E, numa cena bonita, em que descreve as alegrias de ser pai, ele relembra quando perdeu a virgindade pela segunda vez, através das experiências compartilhadas com sua filha, cuja mãe vivia em Paris, França. Pois, no Brasil, numa cidade do interior baiano, há um lugar também apelidado de Paris. E, lá, um fã dostoievskiano estudará Direito no ano que vem, sem nunca ter visto nenhum filme do Domingos Oliveira em sua vida. Quem pode culpá-lo.E eu, como se fosse virgem, sem filhos humanos, elucubrando...

Wesley PC>

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