sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

IGNORANDO O COMENTÁRIO SOBRE “NO MORE WORDS”:

Apesar de eu ser bastante nostálgico e fetichista, neste final de ano de 2011, eu não me sinto tão motivado quanto outrem (ou como eu mesmo, noutros tempos) a elaborar postagens enumerativas acerca das melhores “algumas coisas” do ano que se passa. Hoje, especificamente, eu me sinto mais tendente a uma hipertrofia de coesão e, como tal, faço de conta (por algumas horas) que os momentos finais desta invenção do calendário gregoriano são meros momentos iguais a quaisquer outros, sendo injusta, portanto, esta sede de catalogação. É uma fase, uma defesa, desnecessário dizer de imediato.

No afã por refugiar-me das tais resoluções e/ou pendências anuais, rendi-me prioritariamente a uma superstição erudita: escolhi aleatoriamente um livro teórico na Biblioteca da UFS e hoje, sexta-feira, decidi que o leria até o momento de voltar ao trabalho, na segunda-feira, dia 02 de janeiro. O exemplar escolhido foi “Cultura” (1981), do marxista britânico Raymond Williams. Até agora, li apenas os dois capítulos iniciais (“1. Com vistas a uma sociologia da cultura” e “2.Instituições”), mas já me deparei com uma passagem conceitualmente epifânica e digna de menção apaixonada acerca do tipo de tema/dilema/apreciação que eu costumo publicar neste ‘blog’: “uma sociologia da cultura satisfatória deve atuar de modo mais rigoroso. Ela não pode evitar a presença estimulante de estudos empíricos e de posições teóricas e quase-teóricas existentes. Deve, porém, estar preparada para reelaborar e reconsiderar todo o material e conceitos tidos como verdadeiros, e para oferecer sua própria contribuição no âmbito da interação franca entre evidência e interpretação, o que constitui a verdadeira condição de sua adequação” (páginas 34-35 da segunda edição lançada no Brasil, em 2000, pela editora Paz e Terra).

Um pouco antes de ler o trecho destacado – que me encantou pessoalmente, insisto – li, com muita atenção e interesse, uma daquelas listas de melhores discos do ano 2011 e me deparei com uma resenha elogiosa do disco “Anna Calvi” (2011), obra homônima de estréia de uma cantora também britânica elogiadíssima por artistas que aprecio, como o trovador Nick Cave, os integrantes da banda Interpol e Brian Eno, que chegou a dizer que “o surgimento desta artista é o acontecimento musical mais importante desde Patti Smith”. Obviamente, é um exagero da parte dele, mas, diante de uma declaração dessas, como não me obrigar a ouvir este álbum o quanto antes? Dito e feito: estou na terceira audição consecutiva de “Anna Calvi” e, agora, já me sinto apto a comentar algo sobre ele, excetuando-se as considerações sobre a segunda faixa “No More Words”, que não constava da primeira cópia virtual do disco que adquiri.

Composto por apenas 10 faixas e durando 39 minutos em sua íntegra, “Anna Calvi” é um disco interessante sim, mas menos vanguardista do que eu pensei. É mais ou menos uma atualização da sonoridade patenteada e divulgada pelo grupo Siouxsie and the Banshees, cujo destaque supremo é a faixa 07, “I’ll Be Your Man”, repleta daqueles arroubos multirrítmicos que tanto me encantam. Sem contar que a letra da canção possui aquela melancolia ofertada que tanto me seduz (“In the day, I can be your lover/ In the night, these words are true/ And we wait, wait forever/ For night, I can find / I’ll be your man”). Um primor, simplesmente um primor!

Dentre as demais canções do álbum, os destaques são “Desire”, “Firs We Kiss”, “The Devil” e “Morning Light”, que tocam em temas que muito me incomodaram nestas últimas semanas, temas estes embalados por melodias que transitam entre o oitentismo ‘pós-punk’ e os timbres soturnos desta nova geração musicalmente influenciada por David Lynch, Gus Van Sant e Wong Kar-Wai, como a cantora declara em entrevistas. Não sei se o disco se tornará um dos meus favoritos, mas, no atual contexto, rompe muito bem as contraposições estudadas por Raymond Williams no que tange ao “meramente utilitário” X “artístico” ou “útil” X “meramente cultural”. E, ao final, “Love Won’t Be Leaving”...

Wesley PC>

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