terça-feira, 13 de dezembro de 2011

EU NÃO QUERIA FALAR SOBRE ESTE ASSUNTO, MAS, QUANDO O PRIVADO INVADE O PÚBLICO E EXIGEM QUE DIGAMOS O CONTRÁRIO, PRECISAMOS NOS POSICIONAR !

Na semana passada, circulou pela Internet um vídeo asqueroso em que uma mulher visivelmente perturbada defeca numa agência bancária de Aracaju. Filmado através da câmera de um telefone celular, o vídeo é de má qualidade tanto formal quanto conteudística: logo no começo, deparamo-nos de sobressalto com a mulher acocorada, expelindo os seus excrementos. Em seguida, ela deita-se no chão como se estivesse patologicamente desfalecida e, quando alguém tenta falar com ela, a mesma levanta-se de forma sobressaltada e, em tom de bravata, exibe a sua calcinha suja de merda. Como o som do vídeo é muito ruim, escutamos as risadas das pessoas que observam, espantadas, a situação, mas não o que a mulher doente está gritando. Ao final do vídeo, a mulher, completamente nua e dançando de forma cínica, sai da agência bancária e, do lado de forma, ouve os gritos de uma cliente do banco, que a enxota como se ela estivesse possuída pelo demônio. Se fosse cena de um filme, este segmento dramático renderia uma comoção extraordinária. Enquanto fragmento da vida real, entretanto, os pontos de vista sobre a reprodução midiática do acontecido (sem o óbvio consentimento da mulher filmada) estão redundando em condenações morais das pessoas responsáveis pela má gravação e pelas gaitadas diante da cagona. Ponto continuando.

O parágrafo acima, para além de sua aparente objetividade, é patente na demonstração de um julgamento subjetivo acerca de meu posicionamento pessoal diante da discussão envolvendo a divulgação deste vídeo. O porquê de tudo isso: uma articulista consagrada e muitíssimo talentosa redigiu um texto (disponível aqui) em que o ato de filmar uma pessoa indefesa num ato “natural” é muitíssimo mais indecente do que o ato de tirar a roupa e espalhar as fezes pútridas num ambiente institucional repleto de pessoas. Apesar de admitir que o texto dela é um primor de escrita ideológica (com a qual compactuo em mais de um ponto), os argumentos factuais da articulista são truncados e equivocados: ela confunde “personagens” e artífices do evento, julga precipitadamente uma atitude que ela própria comete ao realizar uma exegese fílmica mui compenetrada do vídeo. Fiquei pensando: e se eu estivesse no banco? Será que eu filmaria aquilo ali também? Será que eu zombaria daquela mulher doente? Será que eu sentiria nojo, raiva ou pena? Não sei dizer, mas, antes de defender qualquer sobejo de naturalismo instintivo por parte da mulher que defecou no centro do salão de atendimento de um banco, acho que seja um traço cultural muito significativo da referida contemporaneidade a obsessão por transformar em imagens filmadas tudo o que nos cerca. Mais: se apenas me contassem que uma mulher defecou numa agencia bancária, talvez eu não acreditasse de todo neste absurdo. Eu precisei ver. Ainda mais: não apenas eu vi como precisei divulgar o vídeo – apesar de rústico, preconceituoso e mal-feito – a fim de demonstrar o meu espanto frente à denotação de que, para além do suposto enfrentamento de forças “naturais” e “culturais”, como aventou a articulista, o que não é visto no vídeo demonstra o que é realmente problemático no mesmo. Exemplo: se aquela mulher é, de fato, mentalmente transtornada, por que ela estava sozinha na agência? Além disso: por que deixaram que ela tirasse toda a roupa e tivesse tempo para eliminar seus bolos fecais? Mais do que exclamações, portanto, este vídeo, a sua feitura e a sua divulgação (por mim, inclusive) lança interrogações: e esse é o meu ponto de vista sobre o mesmo!

Wesley PC>

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