quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

EU, FÃ DO JEAN GARRETT, OU: BUSCANDO SENTIDO (ESTÉTICO) PARA A PERVERSÃO QUE É, POR MIM E NÃO SÓ POR MIM, SENTIDA.

Ontem à tarde, eu saí para visitar alguns amigos. Tinha como planejamento secundário não chegar muito tarde em casa, a fim de visitar também aquele que eu chamo de “meu fornecedor habitual de sêmen”, que não é vegetariano e costuma se masturbar em todas as vezes em que toma banho. Em 96% das vezes, para ser numericamente aproximado. Quando eu chego em sua casa e encontro-o com os cabelos molhados, isto equivale a uma declaração tácita de princípios eróticos: “tu não tocarás em meu pênis hoje!”. O consolo é que, como o rapaz é alto e bonito, resta muito o que fazer com o restante de seu corpo, ainda que, como bem diagnosticou um amigo, o fulgor seminal insiste por manifestar-se, de maneira que, nestas situações de consolo, volta e meia eu termino chateando-o por causa da minha insistência em pelo menos observar o seu pênis ainda avermelhado, admirar aquela glande recém-exercitada, ansiar pela sucção dalgumas gota renitente de esperma que talvez não tenha sido despejada no ralo do banheiro. E, por mais que eu saiba que isto é recorrente, volta e meia me vejo prisioneiro e algoz deste fulgor.

Pois bem, na noite de ontem, desci do ônibus por volta das 20h40’. Quando adentro a casa do “fornecedor” em pauta, percebo que o computador está ligado: um filme levemente erótico estava pausado após mais ou menos 35 minutos de projeção. Escutei o barulho do chuveiro ligado. Era ele! “Adeus, sexo oral por hoje”, pensei. Tendo certeza de que ele estava a derramar solitariamente o colóide precioso, fiquei hesitante se ia direto para casa ou não. Fiquei com receio que ele pensasse que eu estivesse vigiando-o. Após muito pensar, resolver esperar e me despedir dele do jeito certo. Conversamos um tantinho sobre o filme que ele estava vendo, alisei a sua cabeça perfumada de xampu, cheirei os seus cabelos crespos , dei-lhe um beijo no pescoço e saí, prometendo talvez voltar mais para tarde, para conversar um pouco, quem sabe? Quando eu tentei voltar, a porta de sua casa já estava fechada. Escutei que ele ainda estava a assistir o tal filme erótico romeno. Menos mal...

Voltando para casa, desejoso e levemente frustrado em minhas intenções erotógenas, lembrei que o Canal Brasil exibiria um filme erótico que eu ansiava por ver: “Amadas e Violentadas” (1975), dirigido pelo inteligentíssimo Jean Garrett e produzido e protagonizado pelo tesudo David Cardoso. Era o suficiente para eu me consolar um tanto mais. Conhecendo o diretor como eu já conheci (vide este artigo, sobre aquele que talvez seja seu melhor filme; e este, em que ele trabalha como ator e personagem sedutor), tinha certeza de que me veria diante de um filme não apenas genial em sua essência pervertida e analítica tupiniquim, mas também uma obra de arte genial, com ecos de F. W. Murnau, Alfred Hitchcock, Marco Ferreri e muitos outros cineastas. Dito e feito: apesar de ter dormido ao final-surpresa do filme, como sói acontecer nestas sessões tardias do Canal Brasil, consumi uma obra impressionantemente subestimada da cinematografia brasileira. “Amadas e Violentadas” é uma verdadeira jóia!

Na trama, David Cardoso, jovem e utilizando óculos, interpreta um escritor sexualmente recatado, traumatizado pelo assassinato da mãe adultera pelo pai, que se suicida em seguida. Autor de livros de suspense, em que mulheres costumam ser violentamente assassinadas por seus parceiros sexuais, este escritor é, na verdade, um assassino que utiliza suas mórbidas experiências pessoais como motriz de seus enredos. Logo na primeira cena, ele mata sua secretária e um amante dela com um extintor de incêndio. Numa cena posterior, ele estrangula uma fotógrafa depois de posar nu ao lado dela. Numa terceira, ele estrangula uma leitora, tudo com muito requinte e luz avermelhada. Mas o verdadeiro toque de mestre do diretor e roteirista Jean Garrett está numa cena que muitos consideram gratuita, mas que me surpreendeu deveras pela originalidade: enquanto dirigia pela cidade, o protagonista quase atropela uma adolescente que fugia de uma seita de adoradores satânicos. Ela pede abrigo ao escritor, que logo se vê apaixonado por ela. Numa dada madrugada, ele desperta ao som de tambores ritualísticos. A mocinha havia sido seqüestrada pelos satanistas, que planejavam sacrificá-la, até que o escritor mente e diz que a havia deflorado há dois dias. Eles a libertam, sem qualquer represália de qualquer uma das partes. E eu exultei: “caramba, tiveram coragem de fazer isso num filme brasileiro de tintura realista, uau!”. Atestei, assim, a minha admiração suprema pela inteligência do Jean Garrett.

Como eu disse, infelizmente adormeci na seqüência final do filme. Na última mesmo, justamente. Estou ansioso para que alguém consiga o filme e depois me empreste, visto que, pelo que li através de uma descrição sinóptica internética, o desfecho da trama confirma a progressão de inteligência analítico-pervertida que o diretor e roteirista vinha adotando nas cenas anteriores. E, mais do que ficar excitado diante deste ótimo filme, eu entendia a mim mesmo enquanto homem carente de sêmen. Boníssimo e terapêutico, além de genericamente genial!

Wesley PC>

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Adoro o filme,muito bom mesmo,eu só não entendi a ''carência por sêmen'',minha carência é de ter vagina e fazer sexo de fato e, com um hétero,claro.