Eu sei que mais cedo ou mais tarde esse tipo de mixórdia me causará um dilema mais ferrenho, mas, se me perguntassem hoje, eu responderia que é ainda conciliável ouvir Avril Lavigne numa tarde e ler Bertolt Brecht na outra, ver um filme de Manoel de Oliveira no sábado e assistir a um daqueles romances hollywoodianos ‘água-com-açúcar’ no domingo seguinte... Pois foi exatamente isso o que me acaba de acontecer!
Se, ontem, eu e uma dupla de amigos mui queridos urrávamos de gozo risório diante de “A Divina Comédia” (1991), filme em que o hoje centenário diretor português mistura a Bíblia Sagrada com Friedrich Nietzsche e Fiodor Dostoievsky, hoje, domingo, depois de trabalhar por mais de 12 horas seguidas, eu assisti a um filme xaroposo que me encantou pelas sutis novidades conteudísticas de sua trama genericamente previsível. Não direi o nome do filme, mas creio que a trama que resumirei em seguida tornará o mesmo fácil de ser distinguido...
Não vi o começo do filme, posto que estava no trabalho, como disse, mas, do ponto que comecei a acompanhá-lo, num sessão dublada do Telecine Pipoca, um garoto traumatizado com a morte de seu irmão mais novo consente em trabalhar como zelador num cemitério, a fim de entrar em contato diuturno com seu fantasma. Evidentemente, ele é rechaçado pelos demais habitantes de sua cidade, mesmo sendo muito bonito fisicamente e, sendo solitário, lida bem com os fantasmas de entes queridos e com a masturbação. Até que, um dia, ele se apaixona... E o resto eu não posso mais contar.
Enquanto via o filme, enviava trocentas mensagens de celular para um rapaz que insisto em amar – por mais anticatólico que o extremismo de meu sentimento possa se tornar – comunicando-lhe que me surpreendia deveras com as situações de para-necrofilia no filme. Num diálogo absolutamente inusual, a rapariga alisa a pele nua do zelador de cemitério, depois de transar com ele sobre os túmulos, e percebe que ele é repleto de queimaduras. Ele conta que estas são derivadas dos repetidos choques que ele recebeu a fim de sobreviver quando estivera perto de morrer afogado no mesmo acidente que vitimou o seu irmão. Ela alisa novamente as tais queimaduras e assevera: “são lindas”. Ah, como eu quis estar no lugar dela neste momento...
À medida que o filme se aproxima do desfecho, seus intentos comerciais ficam mais evidentes, mas era tarde demais para me arrepender do encanto insuspeito: o filme é bonzinho, recomendo-o para ser visto por casais apaixonados e com gostos distintos no que tange às taxonomias arquetípicas entre gêneros sexuais moldados pelas convenções do capitalismo. Mas se pusessem novamente a arma em minha cabeça, eu naturalmente pediria para rever o clássico literário do Manoel de Oliveira: aquilo ali é quase uma obra-prima. E, talvez justamente por isso, não excluiu a minha necessidade de acompanhar também o que anda sendo produzido por Hollywood hoje em dia...
Wesley PC>
domingo, 11 de dezembro de 2011
ALGUNS "IGUAIS" PODEM SER MAIS DIFERENTES QUE OS OUTROS EM HOLLYWOOD?!
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