domingo, 11 de dezembro de 2011

ALGUNS "IGUAIS" PODEM SER MAIS DIFERENTES QUE OS OUTROS EM HOLLYWOOD?!

Eu sei que mais cedo ou mais tarde esse tipo de mixórdia me causará um dilema mais ferrenho, mas, se me perguntassem hoje, eu responderia que é ainda conciliável ouvir Avril Lavigne numa tarde e ler Bertolt Brecht na outra, ver um filme de Manoel de Oliveira no sábado e assistir a um daqueles romances hollywoodianos ‘água-com-açúcar’ no domingo seguinte... Pois foi exatamente isso o que me acaba de acontecer!

Se, ontem, eu e uma dupla de amigos mui queridos urrávamos de gozo risório diante de “A Divina Comédia” (1991), filme em que o hoje centenário diretor português mistura a Bíblia Sagrada com Friedrich Nietzsche e Fiodor Dostoievsky, hoje, domingo, depois de trabalhar por mais de 12 horas seguidas, eu assisti a um filme xaroposo que me encantou pelas sutis novidades conteudísticas de sua trama genericamente previsível. Não direi o nome do filme, mas creio que a trama que resumirei em seguida tornará o mesmo fácil de ser distinguido...

Não vi o começo do filme, posto que estava no trabalho, como disse, mas, do ponto que comecei a acompanhá-lo, num sessão dublada do Telecine Pipoca, um garoto traumatizado com a morte de seu irmão mais novo consente em trabalhar como zelador num cemitério, a fim de entrar em contato diuturno com seu fantasma. Evidentemente, ele é rechaçado pelos demais habitantes de sua cidade, mesmo sendo muito bonito fisicamente e, sendo solitário, lida bem com os fantasmas de entes queridos e com a masturbação. Até que, um dia, ele se apaixona... E o resto eu não posso mais contar.

Enquanto via o filme, enviava trocentas mensagens de celular para um rapaz que insisto em amar – por mais anticatólico que o extremismo de meu sentimento possa se tornar – comunicando-lhe que me surpreendia deveras com as situações de para-necrofilia no filme. Num diálogo absolutamente inusual, a rapariga alisa a pele nua do zelador de cemitério, depois de transar com ele sobre os túmulos, e percebe que ele é repleto de queimaduras. Ele conta que estas são derivadas dos repetidos choques que ele recebeu a fim de sobreviver quando estivera perto de morrer afogado no mesmo acidente que vitimou o seu irmão. Ela alisa novamente as tais queimaduras e assevera: “são lindas”. Ah, como eu quis estar no lugar dela neste momento...

À medida que o filme se aproxima do desfecho, seus intentos comerciais ficam mais evidentes, mas era tarde demais para me arrepender do encanto insuspeito: o filme é bonzinho, recomendo-o para ser visto por casais apaixonados e com gostos distintos no que tange às taxonomias arquetípicas entre gêneros sexuais moldados pelas convenções do capitalismo. Mas se pusessem novamente a arma em minha cabeça, eu naturalmente pediria para rever o clássico literário do Manoel de Oliveira: aquilo ali é quase uma obra-prima. E, talvez justamente por isso, não excluiu a minha necessidade de acompanhar também o que anda sendo produzido por Hollywood hoje em dia...

Wesley PC>

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