sábado, 26 de novembro de 2011

“TRABALHEM MAIS, ALIMENTEM-SE MENOS!”

O que mais me surpreende no modo como George Orwell (1903-1950) escreve é a simplicidade de suas palavras e frases. Ele não rebusca em demasiado. Ele é direto: ele atira as orações na cara do leitor perplexo, que, mesmo assim, não pode dizer que está diante de romances “fáceis”. Infeliz de quem crer que suas obras-primas literárias são passíveis de interpretações unidimensionais, por mais que suas perspectivas crítico-alegóricas sejam francamente anunciadas. Digo isso, aliás, por experiência própria: li “A Revolução dos Bichos”, publicado em 1945, enquanto esperava a minha vez de votar, em 2010, e fiquei escandalizado com a genialidade distópica do livro. Tão simples, tão direto, tão firme, tão eficaz, tão pessimista... Não me admira que o seu autor tenha morrido tão jovem. Segundo as suas biografias, o motivo oficial de sua morte é uma tuberculose. Sei, sei...

Trouxe esta lembrança à tona porque, há alguns minutos, tive o prazer de finalmente assistir à magnífica versão animada do livro supracitado: “A Revolução dos Bichos” (1954, de Joy Batchelor & John Halas) é um filme tão preciosamente intimidador que, em mais de uma seqüência, eu tive o ímpeto de colocar as mãos diante dos olhos, a fim de não testemunhar as atrocidades que se seguiriam. Juro: eu parecia uma criança diante de um filme de horror em 3D. O filme é tenebrosamente apavorante, de tão ínclito. Eu parecia um torcedor de futebol, em dia de final de campeonato, de tão ansioso que estava em minha cadeira, ansiando para que aquela trama com que tanto me identifiquei tivesse um final proveitoso para os animais revoltosos, mas, por ter lido a obra original, eu sabia que o final seria trágico. Para minha surpresa, o final do filme é diferente daquele do livro: escancara uma interrupção, na verdade, mas demonstra-se ainda mais aberto a interpretações políticas em aberto para o tema do entrecho metafórico. Não é um final feliz ou triste: é cíclico e realista. Um soco na consciência!

Não sei se cabe aqui resumir a trama do livro/filme, de tão conhecida que a mesma é, mas nunca é demais repisar o quanto me identifico e enterneço com a figura do personagem Sansão, cavalo dotado de força e determinação trabalhista sacrificial, que é morto depois que adoece e reivindica descanso, não obstante ter sido o animal que mais trabalhou obstinadamente – em vão? – para o restabelecimento autogerido da fazenda dos animais revoltosos. Dói em meu peito sempre que ele é carregado naquela falsa ambulância, mas não é uma dor que causa choro, e sim conscientização, impotência, vontade de lutar até o estrebuchamento definitivo. Espetacular este filme, fiel em espírito à magnificente obra literária do genial George Orwell, que, aqui, é transportado às telas da maneira respeitosa que os futuros adaptadores cinematográficos não lhe saberão tratar. Definitivamente, eis um filme que merece ser amplamente conhecido (e, obviamente, visto após a leitura do livro original)!

Wesley PC>

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